Prova de anatomia
J.C. Arruda
Uma garota que seja considerada careta ou “santinha” nos dias de hoje, seria tida como uma devassa nos nossos tempos de juventude. E olhem que era a década de 60, quando surgiu a mini-saia e os Beatles desabrocharam para escandalizar como, aliás, já fazia o Elvis! Ainda era o tempo de você enviar um bilhete romântico chamado de “Correio Elegante” para uma garota, a fim de sondar a possibilidade de pedi-la em namoro. Quando a resposta era positiva, aí você chegava para conversar. Se a cantada desse resultado era marcado então a ida de ambos ao Cine Marrocos para ver filmes da Doris Day. Tinha que ser o Cine Marrocos, porque o Cine Sabará era muito falado… E tinha que ser também na primeira sessão que terminava por volta das 9 horas da noite.
Durante o filme, raros eram os rapazes que faziam a tentativa mais ousada de pegar na mão da garota. Isso só iria acontecer três ou quatro sessões depois. Beijar então, era uma epopéia. Demorava um tempão para se conseguir lascar uma beijoca… na bochecha. O tal de selinho tão comum hoje, seria impensável naquela época, em público. Claro que havia excessões, porém mesmo as mais ousadas não admitiam grandes liberdades. Acho que por isso é que muitas garotas daquele tempo ficaram para titias. Quando os rapazes queriam, elas não queriam; quando elas quiseram, ninguém mais queria elas!
Tem uma novela do Mário Prata chamada “Estúpido Cupido” apresentada pela Globo, faz uma data e que nunca foi reprisada nem remakeizada, não sei porque. Representou um grande sucesso por retratar a década de 60 e não houve quem não se identificasse com algum dos personagens. Um deles, principalmente, que era representado pela atriz Izabela Garcia, mostrava uma garota super avançada no seu tempo, destacando-se das demais por ser namoradeira e dar liberdades exageradas para os rapazes. Pois, nessa mesma época também havia no Colégio Estadual uma das meninas que era assim, a Thais, chamada por todos de Thaisinha.
Ela dificilmente parava mais de uma semana com um namorado. Sempre preferia os rapazes mais velhos e era sempre de tomar as iniciativas. Era ela quem pegava na mão, quem dava o primeiro beijinho, quem dava o primeiro beijão e assim por diante. Outras garotas ficavam sempre em torno de Thaisinha para “aprender” coisas. Imaginem que coisas! Mas, o interessante é que ela nunca deixou ninguém chegar nos “finalmentes” e, como sempre estava no comando do namoro, Thaisinha continuava invicta e ninguém jamais teve peito para garantir que tinha conseguido tudo dela. O prêmio tão cobiçado ela guardaria para o marido.
Mas, isso não evitava que ela estivesse sempre envolvida em comentários e acontecimentos. Como no dia, em que o Professor Otávio, de Ciências, reuniu as classes A do primeiro científico masculino e a classe B do primeiro científico feminino, para uma prova oral mista e foi exatamente Thaisinha a primeira que ele chamou para responder. E foi logo perguntando:
– Menina! Existe uma parte do corpo humano que pode se dilatar por até sete vezes o seu próprio tamanho. Que parte é essa?
Por incrível que pareça, Thaisinha foi ficando com o rosto ruborizado, até que ela conseguiu dizer visivelmente envergonhada:
– Ah, professor, eu sei mas não posso dizer…
– Bem – disse o Professor Otávio – por não responder, vai levar a nota zero. A resposta certa é a pupila dos olhos. A julgar pela sua resposta, a senhorita tem muita imaginação, com certeza, não tardará a ter uma grande decepção!