Contagie-se com o espírito olímpico

Por André Roedel

De quatro em quatro anos, o mundo inteiro acompanha um dos eventos mais importantes da história da humanidade: os Jogos Olímpicos. A disputa teve início no século VIII A.C., na Grécia antiga, voltando a ser disputado no ano de 1896, no mesmo país. A competição reúne milhares de atletas em busca de um grande objetivo: ser o melhor em sua modalidade esportiva.

Mas esse está longe de ser o único objetivo do evento. Os Jogos Olímpicos visam celebrar a diversidade, integrar as nações e, principalmente, demonstrar que o esporte é uma das principais ferramentas para combater a opressão. É ele que dá oportunidades para, por exemplo, uma moradora da comunidade Cidade de Deus conquistar a medalha de ouro e ser aplaudida por seu povo.

Vinda de uma família humilde, a judoca Rafaela Silva enfrentou várias adversidades para chegar aonde chegou. Foi no judô que ela encontrou a força necessária para vencer. Mesmo tendo sido vítima de insultos racistas após a desclassificação nos Jogos de Londres, em 2012, a atleta não abaixou a cabeça e alcançou o lugar mais alto do pódio este ano – agora em sua casa.

E esse não é o único exemplo de como os Jogos Olímpicos podem ser benéficos para uma sociedade. O que falar da cerimônia de abertura da competição, realizada no último dia 5 de agosto no estádio do Maracanã? O mundo todo ficou impressionado com a belíssima solenidade. Mais do que isso: o próprio brasileiro ficou impressionado com o que seu povo é capaz, reacendendo a chama do orgulho por seu país – que vinha se apagando a cada escândalo de corrupção e descaso com a população que surgiam no noticiário.

Além do orgulho de ser brasileiro, as Olimpíadas do Rio de Janeiro estão fazendo a sociedade prestar mais atenção em modalidades muitas vezes esquecidas e até vistas com preconceito, como é o caso do futebol feminino. Invictas, as meninas boas de bola encantaram a nação. A soma da grande campanha delas com a fase ruim da seleção masculina fez até um garotinho, que virou sucesso nas redes sociais, riscar o nome de Neymar de sua camisa 10 e escrever o nome da craque Marta.

Os Jogos do Rio têm mostrado também a hospitalidade do nosso povo. Praticamente todos os atletas elogiam a vibração da torcida brasileira, que vem fazendo show nas arquibancadas. Número 1 do mundo, o tenista sérvio Novak Djokovic rasgou elogios aos brasileiros após ser surpreendentemente eliminado logo em sua estreia. “Sinto como se estivesse em meu país, sinto como se fosse brasileiro”, disse ‘Nole’ após a derrota.

Claro que essa primeira semana de Jogos Olímpicos não registrou só bons momentos. Tivemos diversos problemas estruturais, tiroteios em comunidades, vaias estúpidas de alguns torcedores estúpidos para atletas estrangeiros e até ameaças de bombas. Isso sem falar em todos os problemas pré-Olimpíada, como o superfaturamento de obras e todos os gastos (desnecessários?) feitos em plena crise econômica.

Porém, acredito que é o momento de enxergarmos o lado bom das coisas – sem perder o bom senso, claro. Dificilmente veremos tão cedo um evento desse porte novamente no Brasil, então temos que tirar o máximo de proveito possível. Vamos deixar que o espírito olímpico nos contagie. Vai ver era disso que nosso país precisava para engrenar de vez e acabar com esse nosso eterno complexo de vira-lata…