Muita história para contar: Editora Gessulli
Com 107 anos de muito trabalho, a editora ituana produz a revista em circulação mais antiga do Brasil, voltada para o público do agronegócio
ANA LUÍSA TOMBA
A situação de Oswaldo Gessulli (carinhosamente conhecido como “Velho Gessulli”) em 1967 não era das mais fáceis: com uma empresa nas mãos e com um instinto visionário único, decidiu continuar um trabalho que havia começado com o imigrante italiano Conde Barbiellini. O Conde administrava o periódico “Chacaras e Quintaes” desde 1909.
Como um incansável defensor da avicultura e da suinocultura brasileira, Oswaldo acompanhava as publicações desde as primeiras edições. Pouco tempo depois, já era amigo de Barbiellini e, logo, trabalharia com ele. Em 1955, o Conde morreu, deixando nas mãos do Velho Gessulli uma revista e um nome a prezar. Assim, as publicações tiveram sorte de se manterem no ritmo da competência da família Gessulli, com Oswaldo e os filhos Odimar e Oswaldo Penha Gessulli no comando.
Nos anos 70, a revista passou por duas grandes mudanças: o tamanho, que antes era de 22cm x 16cm, e passou a ser 21cm x 28cm; e o nome, que deixou de ser “Chácaras e Quintais” para ser “Avicultura Industrial”, devido ao aumento do público, cada vez mais especializado e exigente.
Antes da industrialização da avicultura, a revista tratava de assuntos menos específicos que hoje. Como o próprio nome já explicava, eram abordados assuntos, problemas e soluções que cabiam e se passavam dentro de uma chácara. “A revista não era ‘profissionalizada’, ela tendia para o lado cultural”, conta Andrea Gessulli, publicitária e sócia da empresa.
A revista não circula em bancas, já que é dirigida a grupos específicos, mas pode ser assinada por todo o Brasil. A editora Gessulli começou em São Paulo, mas mudou-se para o interior (mais precisamente, Porto Feliz) e hoje tem a sede em Itu.
Importância histórica
Em sua 1258ª edição, a revista “Avicultura Industrial” trabalha, ininterruptamente, a serviço de um público muito segmentado: são pessoas de todo o país que precisam saber das últimas novidades sobre o agronegócio. Andrea Gessulli e o irmão, Ricardo Gessulli, são sócios e responsáveis hoje por manter o nível de qualidade e respeito que o periódico mensal adquiriu ao longo dos mais de cem anos de publicações. “A revista trata de temas que vão desde a genética até a nutrição e a saúde animal, mas com uma linguagem mais técnica, por causa do público definido”, explica Ricardo.
Na sede da editora, os irmãos Gessulli armazenam todas as revistas lançadas até agora; o acervo ocupa uma parede inteira. “A revista, ao longo de suas edições, conta toda a história do agronegócio e da industrialização da avicultura e da suinocultura. Essa produção, hoje, é um setor muito importante para o Brasil, pois nós já ultrapassamos até os Estados Unidos em exportação de frango, o que torna o nosso país o maior nesse mercado no mundo todo”, ressalta Andrea. “A mesma coisa aconteceu com a suinocultura, só que é uma onda mais recente. Essa modernização começou há cerca de 30, 40 anos”, completa Ricardo.
Iniciativa educacional
Devido à importância da revista como armazenadora de conteúdo histórico, a editora quer lançar um projeto que vai digitalizar, organizar e disponibilizar na internet todo o acervo guardado em livros, com o objetivo de poder auxiliar em pesquisas escolares e acadêmicas, já que a revista acompanhou de perto e registrou esse processo de industrialização e, hoje, da evolução no mundo do agronegócio. “A ideia é fazer uma biblioteca virtual gratuita”, conta Andrea.
O projeto, que faz parte do “Instituto Oswaldo Gessulli”, e que já foi aprovado pelo Ministério da Cultura, ainda está em andamento e espera angariar fundos para ser executado.
Reconhecimentos
Ricardo e Andrea mostram com muito orgulho a estante onde ficam os prêmios que a empresa já ganhou. Há dezenas deles e os dois irmãos têm até dificuldades em mensurar precisamente quantos são.
No entanto, há um entre eles que merece maior destaque: “Salón de La Fama de la Avicultura Latinoamericana”, prêmio outorgado a Oswaldo Gessulli em 2001, pela contribuição para o desenvolvimento da Avicultura. A distinção é uma das mais renomadas no meio, e é a mais importante da América Latina.
Andrea ressalta que, por mais que o assunto não seja tão abordado diariamente, “é muito importante tratar de questões que envolvam a agroeconomia hoje, porque foi o único setor que fechou com o PIB positivo no Brasil. Além disso, há indícios de que é o agronegócio que vai amenizar e reerguer o país da crise financeira, já que ele carrega essa característica de ser produtor de grãos e de frangos”, finaliza a sócio-proprietária.