Geração alienada

Por Lucas Gandia

“O futuro do país está nas mãos dos jovens”. A frase, clichê e desgastada até no discurso político, atribui aos mais novos uma responsabilidade gigante, ao mesmo tempo em que demonstra ceticismo em relação ao presente. Na maioria das vezes situada em um contexto pessimista, reforça a desesperança de quem já não acredita mais na transformação atual. Afinal, se está tudo como está – e, aparentemente, nada pode mudar –, por que tentar fazer hoje o que os “pequenos” poderão fazer amanhã?

Historicamente, a juventude exerceu papel fundamental na contestação de valores sociais e, sobretudo, morais no mundo todo. De Norte a Sul do globo, jovens já clamaram por liberdade, independência em relação aos padrões dominantes e igualdade. Talvez seja por isso que, com saudosismo, os hoje adultos e idosos questionam as motivações dos adolescentes do século XXI. Será que a molecada quer apenas caçar Pokémon e se exibir nas redes sociais?

A resposta é breve, curta e direta: não. E embora tenham o direito de viver as respectivas vidas com a leveza que a pouca idade permite, os jovens da nova geração sabem o que querem – e mais, conhecem o poder da união. Se alguém discorda, recomendo que acompanhe as notícias recentes sobre a ocupação das escolas no Brasil. Articulados e engajados, os mais novos têm mostrado como é possível discutir em grupo os valores da democracia e das políticas públicas.

Segundo levantamento divulgado pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), já são 1.100 espaços ocupados em todo o país, incluindo escolas, institutos federais, núcleos regionais de educação e instituições públicas. Movimento iniciado no Paraná, onde o governo de Beto Richa (PSDB) possui uma relação conturbada com professores e servidores, a ocupação se espalhou por outros Estados com o intuito de fazer frente às restrições aos direitos sociais no Brasil anunciadas por Michel Temer (PMDB), sobretudo na área da educação.

Em linhas gerais, os estudantes são contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 241, proposta pelo governo federal e aprovada em dois turnos na Câmara dos Deputados, que congela os gastos públicos a serem reajustados apenas pela inflação do ano anterior e deve afetar as áreas da educação e da saúde. Ao mesmo tempo, os estudantes são contra a reforma no Ensino Médio também proposta pelo governo Temer, mas através de uma Medida Provisória, e não por meio de um debate entre o Congresso Nacional e a sociedade.

De fato, a educação no Brasil precisa ser revista com urgência. Entretanto, parece ilógico que as mudanças sejam impostas sem qualquer tipo de consulta aos principais personagens envolvidos: alunos e professores. Para se ter uma ideia das falhas da atual gestão no que tange à área de ensino, basta observar um dos pontos mais criticados da reforma do Ensino Médio: a progressão no ensino integral nas escolas. Além de ignorar a realidade de jovens que precisam conciliar estudo e trabalho – até mesmo para sustentar as próprias famílias –, a medida demanda um aumento nos recursos para profissionais e para a estrutura do próprio processo de aprendizagem. No entanto, como essa conta fechará se o mesmo governo federal prevê a redução dos investimentos para a educação com a aprovação da PEC 241? Talvez a solução prevista seja lotar ainda mais as salas de aula – e dane-se a saúde física e mental dos professores.

Observo com cautela o discurso de quem diminui o movimento estudantil, geralmente sob acusações de envolvimento com grupos políticos. Primeiro, porque ignoram a capacidade de reflexão e senso crítico dos jovens. Depois, porque fecham os olhos para a própria educação como ferramenta de transformação social e desenvolvimento da cidadania.

Educar é um processo complexo e doloroso, mas fundamental e extremamente compensador. Reconhecer que os estudantes estão lutando pelos próprios direitos é o primeiro passo para compreender o que querem para o futuro. Afinal, qual é a geração alienada da história?