Lei contra a população?

Por Daniel Nápoli

 

A população brasileira a cada dia está mais indignada com a violência e a impunidade. Além do medo de ter sua vida destruída ou de sofrer prejuízos materiais, o cidadão teme também a sensação de abandono, de não haver uma punição severa para o indivíduo que anda na contramão da sociedade. Recentemente na cidade de Itu, mais precisamente no dia 23 de fevereiro, uma loja situada no Centro foi furtada, sendo subtraídos 227 celulares e quatro notebooks.

Graças ao trabalho da Polícia Militar, os indivíduos envolvidos no caso foram presos, com os produtos sendo recuperados. Porém, no mesmo dia, após audiência no Fórum, ambos os meliantes foram soltos e sabe-se lá se não cometeram novos delitos após suas saídas.

O caso gerou revolta na população ituana, que lamentou o fato da PM estar “amarrada”, uma vez que constantemente corre risco de morte em inúmeras ocorrências, prende o criminoso e muitas vezes o vê ser solto pouco tempo depois. Saindo do cenário municipal e partindo para o nacional, nas últimas semanas os noticiários foram tomados por casos policiais, envolvendo pessoas do meio do futebol.

Preso em 2010 pela participação no sequestro e assassinato da modelo Eliza Samudio, com quem havia se envolvido, o então goleiro Bruno Fernandes foi condenado a 22 anos e três meses de prisão. No final de fevereiro deste ano, no entanto, o ex-camisa 1 do Flamengo conseguiu habeas corpus por meio de uma liminar deferida pelo ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio Mello.

Agora, em liberdade, Bruno já recebeu a proposta de nove times (três do Rio de Janeiro, três de Minas Gerais, dois de São Paulo e um de Brasília), sendo que duas dessas equipes atuam no Campeonato Brasileiro da Séria A, ou seja, a elite do futebol nacional.

Bem, deixemos um pouco de lado o “Caso Bruno” e foquemos em Edson Cholbi do Nascimento, o Edinho, filho do Rei do Futebol, Pelé. Ex-goleiro do Santos Futebol Clube, equipe em que seu pai conquistou tudo e mais um pouco, o “Príncipe” atualmente treinava o Tricordiano (MG), equipe da cidade natal de Edson Arantes do Nascimento (Três Corações), que disputa a primeira divisão do Campeonato Mineiro.

No dia 24 de fevereiro deste ano, Edinho se entregou às autoridades para cumprir a pena de 12 anos e dez meses de prisão, após a confirmação da lavagem de dinheiro, proveniente do tráfico de drogas. Em 2014, o ex-goleiro havia sido condenado a 33 anos de prisão pelo mesmo crime. Voltando mais um pouco, em 2005, Edinho havia sido detido em uma operação para desmantelar quadrilha envolvida em tráfico de drogas.

Já nos anos 1990, o ex-camisa 1 havia sido condenado por homicídio, devido a seu envolvimento em um “racha”, ocorrido na cidade de Santos, que deixou um morto. A sentença foi anulada. Retornando para  2017, mais precisamente no último dia 2 de março, Edinho também conseguiu habeas corpus e já procura clubes para treinar, tendo inclusive sido ventiladas propostas.

Agora podemos falar sobre os dois casos, de forma conjunta. Ambos possuem problemas com a justiça, recebendo condenações e mesmo, depois de tudo, continuam sendo assediados por clubes e, acreditem, por torcedores, como eu e você que clamam por fotos, um minuto de atenção que seja.

Torcedores fanáticos, que não querem saber da história do jogador ou do treinador, desde que dê resultado. Mas aí é que pergunto: um ídolo pode tudo? Porque um ídolo pode tudo?

Porque eu faço defesas espetaculares ou porque sou filho do Rei do Futebol, posso aprontar as mais diversas atrocidades e está tudo bem? Continuarei venerado? Enquanto as leis continuarem na contramão da sociedade, a mesma permanecerá condenada à violência e a impunidade.