Cabreúva, altanaria e glória

A vizinha e amiga cidade de Cabreúva viveu uma noite histórica na quinta-feira última, 23, por ocasião do lançamento do livro, autêntica preciosidade, de autoria do advogado e filho da terra, Dr. Otoni Rodrigues da Silveira.

Histórica, não pela suntuosidade e sim pela importância, projeção e alcance do seu significado.

Consistiu de promoção conjunta entre a Prefeitura, Câmara Municipal e a entidade cultural “Cabreúva, História e Memória”.

Dr. Otoni é formado pela USP, no lendário prédio do Largo de São Francisco, com passagem pelas empresas do Grupo Bradesco e advogado ainda militante.

O evento se deu no recinto da Câmara Municipal, de ampla e confortável acomodação para o público e teve um lado folclórico, muito ao gosto e peculiar às tradições da cidade. Do cancioneiro popular, pontificaram renomados músicos, o dueto Célia Trettel e Tabajara, violão e clarineta, seguidos de trio da conhecida Orquestra de Violeiros de Itu.

O coro surgiu espontâneo, pelas vozes do próprio público, de tão enlevado.

Do que pudesse faltar à Cabreúva, como identidade e lastro histórico, o autor cuidou com extraordinário zelo e acuidade ao compilar e registrar mil pormenores, pacientemente. Ele próprio o diz, à página 15:

“Pesquisei, estudei, meditei e comparei impressos e manuscritos, tradições orais e papéis do Estado. Esforcei-me para tirar a limpo a verdade, separando-a do que obscurecê-la. Com o andar dos tempos e o encontro de novos subsídios, haverá de certo o que modificar e depurar ainda nesta História”.

Exclui, portanto, de si e desde logo, qualquer pretensão menor, para dizer que nas pesquisas, se respeitosamente chega a discordar de alguns relatos, não signifique esteja aí reprovação a quem quer que seja. Cita abertamente pesquisadores outros dos quais se serviu, com destaque e para apenas um exemplo, o do insigne historiador ituano, Francisco Nardy Filho, em quem se louva para tantas evocações e registros.

Declarou ter-lhe sido de imensa valia a contribuição do Museu Republicano  “Convenção de Itu”, local de infindas consultas durante os cinco anos de pesquisa e pelo que, na pessoa da Dra. Anicleide Zequini, aliás presente na solenidade, agradeceu a todos os funcionários da casa.

Mesmo sem percorrer as 752 páginas, desdobradas em dois substanciosos volumes, no mero folheio dos textos iniciais e vistos por cima, antecipa-se e se adivinha o sabor dessa leitura no todo. Ainda mais que, em matéria de citações de nomes e datas, costumeiramente cansativos, aqui os fatos estão floreados por um estilo leve e agradável, convidativo e ameno. Desperta e prende a atenção, seja pelo conteúdo, seja pela fluência.

Até no mero título de alguns capítulos, há expressões de conotação poética, como  “O Rio Tietê: Que fascínio é esse?” e, logo a seguir, este outro, “Estamos chegando a Cabreúva”.

Faz acentuada diferença, no tempo e no espaço, o lançamento desta obra, a que o autor atribuiu o título de “Cabreúva, História e Contexto”.

Para arremate destas considerações, volte-se ao prefácio do livro, que vem apropriadamente denominado, “Memória Redivida”.

Entregue essa incumbência, com muita propriedade, a outro incansável pesquisador, Inaldo Lepsch. Ele fecha convictamente suas apreciações por afirmar seja o trabalho do Dr. Otoni “uma obra magnífica sob todos os aspectos”.

Há que se falar ainda quanto à aparência dos volumes, de confecção esmerada, vistosos mesmo, um fino produto da Editora Ottoni, o seu proprietário por sinal, primo do autor. Interessante que tal laço de parentesco não se prende aos nomes. Otoni, prenome do autor. Do editor, já se trata do sobrenome, Ottoni. Primos, porque se os liga a circunstância de ambas as famílias serem Silveira.

Ponto alto a ser destacado, não obstante o elevado custo dessa edição, consistiu-se do gesto participativo de terem sido os referidos volumes ofertados pessoalmente a todo público, sem ônus. Dessa maneira chega ao povo, na forma de mimo excepcional, na sua apresentação e conteúdo, um modo de seus habitantes poderem reviver a cidade, do nascedouro aos tempos de agora.

Consigne-se em tempo o fato de que, considerados o brilho e a importância do evento, quem porventura não conhecesse o Dr. Otoni, talvez nem percebesse fosse ele o personagem central da noite.

Uma postura de pessoa comum e sem dúvida feliz pelo êxito da empreitada, mas, ao mesmo tempo, envolvido sempre muito informalmente, por amigos e admiradores.

 

Bernardo Campos

Cadeira nº 13

Patrono: Luís Colaneri