O suicídio na nossa realidade
Gabriela Prado
O mês de setembro foi especial, para não dizer tenso e sério. Neste mês, é comemorado o Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio. As redes sociais foram lotadas com mensagens otimistas, declarações tristes sobre histórias com suicídio e muita empatia. É bom ver que ainda existem pessoas solidárias e realmente interessadas no bem-estar alheio. Mas nem sempre isso é bom.
O Setembro Amarelo foi iniciado no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), realizando as primeiras atividades em 2015. “Falar é a solução” é o slogan do mês de prevenção ao suicídio. Mas será mesmo que falar é a solução – ou a única, como dá a entender – para evitar suicídios?
Conforme eu fui me inteirando no assunto e conhecendo diversos pontos de vista sobre o Setembro Amarelo, percebi que a impressão externa que causamos interfere em nossas ações internas mais do que podemos perceber. Conversando, ainda, com colegas de trabalho, jornalistas formados e com extenso conhecimento no mundo da comunicação – muito mais do que já experimentei –, notei também as ansiedades que esse mês causa em quem nunca teve problemas ou conversas com e sobre o suicídio.
Eu sempre tive conversas e debates sobre suicídio e depressão – esses dois fatores estão muito conectados – na escola, e isso formou muito do que sou hoje. Todo adolescente já passou por um momento de infelicidade constante, por assim dizer, com relação à vida incerta e incoerente do período. Mas o suicídio e a depressão não são muito tratados nessa fase. E é aí que ele se mantém preso à nossa rotina. E talvez aí esteja o problema. A famosa frase “cortar o mal pela raiz” faz sentido. Se não é conversado na adolescência, será conversado na fase adulta, quando talvez já seja tarde demais…
“Sua vida importa”, “Você é importante” e “Você fará falta!” são algumas das frases mais propagadas sobre o Setembro Amarelo. E eu quero dar minha opinião sobre essa disponibilidade que está saltando da tela dos computadores, smartphones e afins. Acho equivocadas as atitudes de se disponibilizar para quem precisa de alguém para desabafar, para quem está passando por momentos difíceis e para quem está na beira do precipício. Às vezes, a mão que oferecemos para puxar a pessoa para longe do precipício é a mesma mão que pode empurrá-la, inconscientemente, para o “pulo da morte”. Não planejamos fazer isso, obviamente – porque só queremos ajudar da melhor maneira –, mas acontece, infelizmente.
Eu sei o quanto é difícil não conseguir desabafar com alguém sobre alguma aflição interna ou ansiedade demasiada. Todo mundo tem ansiedade hoje em dia. Nossos dias se tornaram mais curtos, mais corridos e menos variados. Caímos na rotina dos anos 1960 – industrialmente falando, quando as atividades trabalhistas eram monótonas e alienadas – e estamos longe de conseguir sair desse ciclo vicioso de cumprir o dever, pular o lazer, ficar na ansiedade e voltar ao dever. Esse ciclo se estende para muito mais do que apenas as obrigações “de adulto” e rotineiras.
Falar sobre o suicídio ainda é um tabu imenso, e não deveria ser. A cada dia, as informações que são enviadas a nós são mais compartilhas e debatidas. Todos os dias, a cada 40 segundos alguém tira a própria vida no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Todos os dias, uma vida a menos no mundo. E o real motivo? O contexto no qual estamos inseridos, a sociedade, o que nos é imposto e o que temos que aceitar e fazer. Não quero problematizar tudo que tem de errado na nossa atualidade – preconceito, machismo, racismo, homofobia… –, mas eu quero alertar sobre os perigos da disponibilização de ajuda constante. Quero que paremos de tentar justificar um suicídio apenas como um momento de tristeza, depressão e dor. O suicídio não acontece somente por isso. Se pudéssemos o impedir apenas gerando sorrisos, o mundo estaria em paz.