Ditadura velada

Daniel Nápoli

 

O Brasil e o mundo como um todo estão vivendo uma dura crise ética. A exposição de ideologias está disseminando o ódio com uma facilidade assustadora.

Ficando apenas em nosso país, podemos presenciar, principalmente nas redes sociais, pessoas trocando ofensas e ameaças por terem pensamentos diferentes.

Fala-se até hoje de diversas épocas do Brasil em que as pessoas não podiam se expressar, emitir suas opiniões sem haver hostilidade. Mas voltando aos dias atuais, será que realmente estamos vivendo uma democracia?

Vou deixar aqui dois exemplos. O primeiro deles diz respeito à polêmica exposição realizada em Porto Alegre, a qual faria apologia à pedofilia e à zoofilia. Existem pessoas que não acharam aquilo ruim, que é arte. Outros discordaram completamente, achando ser uma verdadeira ofensa à moral. Em uma democracia verdadeira, cada um teria a sua opinião e haveria o respeito de ambas as partes. Mas o que se viu foi um verdadeiro linchamento de ambos os lados.

Outro exemplo é também referente à Arte. Recentemente, em São Paulo, no Museu de Arte Moderna, quando em uma intervenção artística uma criança pôde tocar um homem nu.

Os mais liberais disseram que não havia nada de anormal nisso, já que nudez não quer dizer erotismo, enquanto os que pensam o contrário foram chamados de repressores. Novamente discursos de ódio foram expostos, dos dois lados. Mas isso não seria uma forma de repressão das duas partes?

Qualquer que seja “o lado”, ao querer impor sua ideologia a um determinado grupo, utilizando acusações e xingamentos, é uma forma de opressão, sim. Ninguém é obrigado a gostar de nada, mas o que precisa existir é o respeito. Coisa que está faltando para muita gente.

Além disso, está em falta também em nosso país, nos dias atuais, a coerência. O se colocar no lugar do outro. Os valores estão invertidos. Explico: pessoas que defendem a liberdade, o direito de escolha de cada um, criticam quando este não tem a mesma ideologia. Critica aquela menina que quer brincar de casinha ou o menino que só gosta de azul ou joga bola. As crianças não estão sendo oprimidas, é uma escolha delas, como também ninguém tem que criticar se fosse ou for o contrário.

Ainda a respeito da incoerência, muitos são os comentários em redes sociais a respeito de jovens que agridem professores e pais. Muitas vezes denominados “vítimas da sociedade”, alegando a falta de educação e de estrutura nas instituições como agente causador dos males, mas quando um professor ou um pai repreende uma criança, falam até de assédio moral.

Vindo para Itu, recentemente um comerciante da cidade recebeu críticas em seu perfil em uma rede social simplesmente porque postou uma foto ao lado de um cliente seu, que vem a ser político. Tudo está sendo um “pisar em ovos” e incoerência.

Estamos chegando a um triste ponto em que daqui a pouco, se você tiver dentes, vai ofender quem é banguela. As pessoas estão brigando, se odiando e se matando por coisas bobas.

Pelo menos em nosso país, a democracia só está existindo no papel, porque na prática está longe de acontecer. Não vejo que uma pessoa é livre a partir do momento em que ela não pode se expressar ou argumentar sem ser confrontada com hostilidade.

Acredito que estão sobrando reclamações, ódio pelo simples ódio e menos respeito, compreensão e amor. O fato de eu não gostar de determinada coisa, não quer dizer que eu tenho que odiar ou odeie quem gosta. É isso, é algo que deveria ser simples. Se cada um respeitar o espaço do próximo, o mundo será bem melhor.