VINGANÇA DATILOGRÁFICA

Quando Antonieta cruzou olhares com Bernardo naquela manhã, teve a certeza de que aquele era o homem da vida dela. Antonieta era eficaz escriturária da Fabril Redenção, uma fábrica de tecidos que existiu por muitos anos na Vila Nova, no prédio onde hoje fica o Supermercado Pão de Açúcar. Bernardo estava começando na empresa naquela manhã como contra-mestre e, também para ele, não passou despercebida a presença de Antonieta. Nos dias seguintes, passaram a se cumprimentar, cada um sempre com um sorrisinho no canto da boca. Sorriso vai, sorriso vem, chegou o momento de se encontrarem e foi numa festa de 1° de Maio, quando a Fabril Redenção, como fazia em todos os anos, reuniu os funcionários para um churrasco, com refrigerantes, cerveja e música. Claro que sempre acabava tendo um bailinho improvisado com os presentes e, foi num desses, que Bernardo tirou Antonieta para dançar. Para resumir: se gostaram, se namoraram e, em menos de um ano, estavam casados. No ano seguinte, nasceu Artur, um presente dos céus para o casal. Bernardo, aproveitou a ocasião para realizar um sonho da esposa: comprou para ela, em prestações, uma máquina de escrever, com a qual ela passou a prestar serviços de datilógrafa nas horas vagas para ganhar um dinheirinho extra. O tempo foi passando, o Arturzinho crescendo e ficando sabido. Dizem que sabido até demais. O menino, ainda com 5 anos, começou a prestar atenção nos pais e a fazer perguntas incômodas. Chegou a um ponto que ambos, quando estavam afim de algum momento de carinho íntimo, precisavam trancar a porta do próprio quarto. Mais tarde chegaram conclusão de combinar entre si uma saída para manter a pureza do menino. Assim, cada vez que Bernardo estava afim – vocês sabem do que… – convidava Antonieta para escrever uma carta, datilografada claro, e passavam momentos tranquilos na cama. Certo dia tiveram uma desavença e ficaram sem se falar. Bernardo chamou então o menino e pediu: – “Artur, fale para sua mãe que eu estou precisando escrever uma carta. Veja se ela pode me ajudar”. Arturzinho voltou com a resposta: – “A mamãe mandou dizer que a máquina está com defeito e que não vai escrever”. Bernardo, contrariado, foi para o quarto. Já Antonieta, ficou na sala com remorso, resolveu contemporizar. Chamou o filho e pediu a ele para dizer ao pai que havia consertado a máquina e já dava para escrever a carta. Bernardo, olhou o filho e ainda magoado, disse com firmeza: – “Fale prá sua mãe, que não precisa mais. Já escrevi a carta, à mão mesmo!!!”

Coisas de antigamente…