Motoristas de ônibus de Itu experimentam sensações de pessoas com deficiência
Mais de 120 motoristas das concessionária Viação Itu, Avante e VB Transporte participaram na sexta-feira (27/04) da palestra “Acessibilidade no Transporte Coletivo”, ministrada por Lilian Damiana de Almeida Ribeiro, presidenta do Conselho Municipal de Atenção à Pessoa com Deficiência de Itu. Após a palestra, os funcionários das empresas participaram de uma dinâmica de sensibilização que incluiu experiências como o uso de cadeira de rodas, muletas, falta de mobilidade em membros e ainda simulações de perda total de visão. “Sou motorista há 19 anos e hoje pude sentir como é a vida de uma pessoa cega. Vendado, você perde a noção de espaço, de onde está. É uma sensação ruim demais”, afirma Flávio Pereira da Silva, que teve os olhos vendados totalmente.
Silva enfatizou que a palestra, com duração de uma hora e meia, mais a dinâmica de sensibilização, lhe trouxe mais conhecimento sobre os direitos das pessoas com deficiência (PCA) e também sobre os deveres. “A iniciativa é excelente e demonstra que as empresas estão se preocupando mais com a inclusão social”, afirmou o vereador Rodrigo Macruz, que esteve na Sala de Treinamento da garagem da Viação Itu, onde foram realizados os eventos, um no período da manhã e outro à tarde.
A palestrante Lilian, que trabalha há 23 anos com PCAs, falou sobre a lei 13.143, de 2015, que instalou no Brasil o novo Estatuto da PCA e destacou que é necessário, antes de mais nada, quebrar preconceitos para socializar. “Além de esclarecer diversos pontos da legislação, precisamos lembrar que os preconceitos existem e precisam ser quebrados. É a única maneira de socializar as PCAs e fazer a inclusão social deles na comunidade”, argumenta.
Segundo ela, é preciso estar atento à abordagem correta das PCAs no transporte coletivo pois a própria pessoa com deficiência já carrega com ela os seus preconceitos pois, em algum momento, foi estigmatizada pela própria família ou sociedade. “O motorista ou qualquer outra pessoa precisa, em primeiro lugar, perguntar se a PCA quer ajuda ou não. O respeito vem em primeiro lugar e, antes de tocar na pessoa ou na cadeira de rodas, por exemplo, que é uma extensão do corpo do cadeirante, saber se ele permite”, diz.
Lilian explicou também que quando já existe um cadeirante dentro de um ônibus ocupando o espaço reservado a ela e outro cadeirante queira usar o mesmo veículo, o motorista tem de explicar que ela pode optar por usar o mesmo ônibus, desde que aceite ser colocada em outro banco e com a cadeira de rodas dobrada ao lado. “A PCA tem o direito de aceitar ou não. Caso aceite, tem de ficar sentada e, em hipótese alguma pode ser permitido que a pessoa permaneça dentro do veículo sem estar sentada. Se ela não aceitar, tem de esperar outro ônibus”, esclarece.
A maior dificuldade que ela notou, após a conversa com os motoristas, ocorrem na hora do embarque e desembarque de PCAs. “Um dos motoristas citou que, algumas vezes, um grupo de usuários do transporte e demais pessoas que estão perto dos pontos fazem pressão para que a pessoa seja levada. Ele me contou que em um caso, quando o elevador estava quebrado, os usuários carregaram a pessoa para dentro do ônibus e praticamente o obrigaram a levar. É uma situação muito delicada pois, durante o percurso, os usuários foram descendo do veículo e, no final, ele ficou sozinho para tirar o PCA de dentro do ônibus, o que é um risco para ele e para o próprio deficiente”, argumenta.
Segundo ela, em casos semelhantes, o motorista não deve aceitar a pressão popular e, em caso de ameaça de agressão, deve imediatamente acionar a polícia. “Sabemos que existem a maioria das PCAs tem boa índole mas também tem muitas PCAs maldosas e que se esquecem também que, se têm os seus direitos, também têm os seus deveres”, salienta.
Dinâmica de sensibilização
Os motoristas participaram da dinâmica de sensibilização e puderam sentir as dificuldades que cada pessoa com deficiência possui. “É sempre bom a gente se colocar no lugar do outro. Com a dinâmica, quisemos mostrar que ninguém vive sozinho em sociedade e há a necessidade de interação para que a inclusão e a acessibilidade sejam promovidas”, diz. Um dos motoristas, sentado em uma cadeira de rodas, serviu café para os demais participantes, enquanto outros profissionais tentaram ajudar outros motoristas que foram vendados e outros que tiveram os braços amarrados.
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