O Que De Verdade Importa

Por André Roedel

Tem filmes que só de “cheirar” eu já sei que não vale a pena. Não é nenhum tipo de prepotência, não. É só a experiência de quem vai muito ao cinema e começa a identificar algumas constantes em longas-metragens fracos. Geralmente são de produtoras pequenas, com elenco “alternativo” (pra não dizer repleto de completos desconhecidos) e um marketing inexpressivo.

O Que De Verdade Importa (The Healer, 2018, comédia dramática) não decide que gênero enveredar. A premissa é interessante, mas o filme patina nas atuações que beiram o ridículo, nos diálogos muito mal escritos e nas escolhas equivocadas a cada cena.

O longa-metragem dirigido pelo mexicano Paco Arango mostra a vida de um engenheiro frustrado chamado Alec Bailey (Oliver Jackson-Cohen), que vive em Londres. Ele trabalha consertando eletrodomésticos, mas o dinheiro que ganha não é suficiente para pagar as suas contas – e as dívidas de jogatina.

Porém, tudo muda quando um tio distante (Jonathan Pryce) aparece em sua vida com uma proposta irrecusável: pagar todas as dívidas de Alec desde que ele se mude para o Canadá por um ano. Ele então aceita o acordo e inicia uma nova fase em sua vida. Após um mal-entendido, Alec acaba sendo confundido com um curador (healer, em inglês) de verdade, com pessoas o procurando para que sejam curadas de alguma doença.

Porém, o filme não se acerta. Pende pra comédia certo momento, depois quer ser dramático… Em meio a isso, o elenco fraco não consegue dar conta. As atuações são piores do que telefilmes e a fotografia é muito genérica. Outra coisa que faz o filme ser fraco para mim, particularmente, é o propagandismo religioso.

Em determinado momento, O Que De Verdade Importa vira um filme cristão. Não há problema algum nisso, mas ele deveria deixar isso claro desde o início – assim como a franquia Deus Não Está Morto. Nos momentos que o longa força a barra para deixar tudo mais comovente, escorrega demais.

Do segundo para o terceiro ato, quando uma jovem com câncer (Kaitlyn Bernard) entra na trama, o filme se perde de vez. Relações entre personagens que acabaram de se conhecer surgem como se já existissem há anos, o roteiro usa de saídas fáceis para justificar eventuais furos e nada mais se sustenta. O final aberto, que parece um gancho para uma possível continuação, é um tanto decepcionante.

Porém, além da premissa interessante, o filme se salva pela boa ação: a produção reverterá o valor líquido arrecadado na venda de ingressos para sete organizações brasileiras que apoiam o combate ao câncer infantil. Excelente gesto, mas o filme é fraco.

 

Nota:

 

 

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