Infiltrado na Klan
Por André Roedel
O novo filme de Spike Lee já nasce como um clássico moderno. Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, policial, 2018) é fantástico e conduzido com maestria pelo grande cineasta de Faça a Coisa Certa e outros filmes. O longa-metragem, baseado em fatos reais e que chega aos cinemas em 22 de novembro (já foi exibido no Brasil na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo), explicita a importância contra o racismo e a intolerância em tempos de ódio, tudo isso com o humor mordaz característico do diretor.
Forte concorrente ao Oscar em diversas categorias, Infiltrado na Klan não é um filme centrado em grandes atuações – apesar de o protagonista John David Washington, na pele do primeiro policial negro do Colorado Ron Stallworth, mandar muito bem. Ele está preocupado em passar uma mensagem para o espectador. Uma mensagem que pode ser um grande tapa na cara de muitos, principalmente por seu final impecável e avassalador.
Na trama, Stallworth, em seus primeiros dias como recruta, resolve iniciar uma investigação infiltrado na filial local da Ku Klux Klan – organização civil americana que prega a supremacia racial branca, o racismo e o antissemitismo. Por razões óbvias, o contato com os membros da KKK é realizado por um policial branco, Flip Zimmerman (Adam Driver). Tudo isso em meio a um turbilhão racial que os EUA vinham passando desde o advento dos Panteras Negras e de Martin Luther King.
O filme toma algumas liberdades cronológicas para contar a história real, mas o grosso está lá. E muito bem contado. Com um roteiro impecável e diálogos memoráveis, Infiltrado na Klan é daquelas obras marcantes, que serão discutidas por muito tempo. Seu discurso atemporal (infelizmente, visto que estamos longe de acabar com o racismo) é um de seus incontáveis pontos positivos.
Com diversos predicados nas áreas técnicas – principalmente fotografia, edição e maquiagem –, o filme é uma pérola nesses tempos de produções feitas apenas para faturar milhões em bilheterias. Consegue, além de apresentar uma excelente obra da sétima arte, levar um discurso poderoso para esse período em que governantes mundiais falam impropérios no alto de seus púlpitos para milhões de seres humanos ávidos em validar seus discursos de ódio.
Numa crítica direta ao presidente dos EUA Donald Trump, a David Duke (líder da KKK, interpretado no filme por Topher Grace) e todo racista e antissemita mundo afora, Infiltrado na Klan é, mais do que tudo, uma obra importante para definição moral do espectador. Vale e muito o ingresso.
Nota:
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