Regina Parra apresenta projeto inédito na Fábrica de Arte Marcos Amaro
Um corpo potente e lascivo e, ao mesmo tempo, vulnerável. O erotismo e a vulnerabilidade aqui são sinais de resistência. Uma estrutura capaz de superar limitações e transcender. Diante disto, a indagação: como transformar e adaptar esses movimentos? É o que a artista Regina Parra investiga em “Eu me levanto”, exposição que será apresentada a partir de sábado (15), das 10h às 16h, na Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA), localizada na R. Padre Bartolomeu Tadei, 09, Vila São Francisco. A entrada é gratuita.
Concebida para o edital de ocupação da Fundação Marcos Amaro (FMA) e curada por Galciani Neves, a mostra empresta o título de um poema da escritora, poeta e ativista norte-americana Maya Angelou (“Still I rise”) e reúne trabalhos sobre um tema constante na pesquisa de Parra: o corpo feminino. A artista explora a vulnerabilidade do corpo como um meio para criação de novas potências. “É um corpo que escolhe se abrir ao invés de se blindar”, ela explica.
Regina Parra provoca através das dualidades. O corpo passivo e afogado de Ofélia – personagem de Shakespeare na obra “Hamlet’, uma figura nobre, frágil e doce – ressurge na série de pinturas de autorretratos “Tenho medo que sim” (2018), mas com gestos ambíguos que oscilam entre a devassidão e a sentença.
O retrato é um gênero da pintura que, tradicionalmente, destacava a representação de figuras públicas que detinham poder político, econômico ou social. Ao longo da história, os homens foram os mais registrados, enquanto era comum que as mulheres fossem retratadas com alusão às mitologias e à iconografia cristã. “Todas refletiam ideais restritivos de beleza que apagavam a subjetividade feminina”, diz Parra.
Não à toa, Ofélia, aqui sob a pele da artista, transcende as formas tradicionais de retratismo e é apresentada não mais como a frágil e dócil amante de Hamlet. Como um jogo erotizado, seus movimentos agora criam uma combinação de sensualidade e violência implícita.
A artista suscita um corpo com novas sensibilidades frente às intempéries políticas, culturais e afetivas da vida contemporânea. E é um corpo que, bem como no poema de Angelou, ainda se levanta.
Em “Lasciva”, série coreográfica inédita de sua direção em parceria com Bruno Levorin, Regina permeia questões que atravessam o erotismo, a sensação, a vulnerabilidade e a força, estabelecendo gestos, imagens e palavras produzidas na relação entre duas mulheres.
Na coreografia, Parra procura falar sobre o feminismo da atualidade e busca a distinção das palavras urgência de velocidade. É um convite para que o público reflita acerca das formas, estruturas e os usos implicados na performatividade dos gêneros. A apresentação de “Lasciva” acontecerá durante a abertura da mostra e será dividida em dois atos, com intervalo de 40 minutos entre cada um.
A exposição de Regina Parra é o terceiro projeto premiado pelo Edital de Ocupação da FAMA, promovido pela Fundação Marcos Amaro a fim de fomentar a produção artística contemporânea. Edith Derdyk e Eduardo Frota foram, nessa ordem, os primeiros contemplados pelo Edital.