Tempos Modernos

Falava-se “goalkeeper”… e hoje é goleiro. Falava-se já não me lembro o quê… mas hoje é zaga. E assim por diante.

Lembro-me de uma ocasião em que eu disse: é preciso chamar o “chauffer”… e meu filho mais velho, já formado em Medicina, em tom de censura: “o que é isso, mamãe!”

Assim foi continuando o andar da carruagem, de modo que algumas palavras e frases usuais só encontramos agora em dicionários… e não em todos!

Por causa disso, costumo divertir meus netos (os bisnetos ainda não estão nessa fase) com palavras e ditos ouvidos de meus pais, de meus avós e até de um casal de bisavós (estes realmente marcaram minha infância…). Isto sem falar das frases latinas, que me encantam, pois o latim fazia parte integrante dos estudos de afortunados jovens que cursavam o Ginásio, onde se bacharelavam em “Ciências e Letras”. O Diploma conseguido, sempre muito elaborado, em pergaminho ou pele, estampava, orgulhosamente: “Bacharel em Ciências e Letras”.

Realmente não era outra coisa, pois aprendíamos Português (não se falava Língua Portuguesa…), Francês, Inglês, Latim e suas respectivas Literaturas, sendo que referente à língua pátria havia Gramática (ah, as análises sintáticas…), Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira; Matemática; Geometria; Álgebra; Física; Ótica; Mecânica; Química Geral; Química Orgânica e Inorgânica; Desenho Geométrico; Desenho Artístico; História da Civilização; História do Brasil; Geografia Geral; Geografia do Brasil; Cartografia; Canto Orfeônico (com ótimas noções de música e formação de Coral); Trabalhos Manuais (bordados diversos com muitos “pontos” diferentes, tricot e crochet para as meninas e trabalhos em madeira ou couro para os meninos, inclusive xilogravura). Nem sei se me esqueci de alguma “matéria”, como eram chamadas as atuais “disciplinas” (ai que nome horroroso…).

Eram cinco aulas diárias, de segunda a sábado, num total de trinta aulas semanais, das 12h às 17h30, chovesse ou fizesse sol, no frio ou no calor! Havia trinta minutos de recreio e o intervalo entre as aulas era de poucos minutos, somente para a troca de Professor ou de sala e, se muito necessário, uma “saidinha” rápida, com “ordem do Bedel”. A palavra “stress” ainda não existia… Andar pelo pátio fora do horário de recreio, só indo para os Laboratórios, Sala de Artes ou Anfiteatro. Em compensação, que delícia as brincadeiras, as conversas, os risos e sorrisos dengosos, quando se percebia haver algum coleguinha espreitando as garotas, lá do seu recreio (sim, pois os garotos tinham recreio em pátio separado…).

Eu falei acima dos “afortunados” jovens que cursavam o Ginásio. Com esse “afortunados” não quis me referir aos filhos das famílias “endinheiradas” (outra expressão hoje sem uso…), mas sim às famílias cujos pais já tinham “visão de futuro”, compreendendo o valor do estudo para o progresso pessoal de seus filhos, enquanto outros, em até muito boa situação econômica com isso não se preocupavam, principalmente com as meninas, às quais bastava um bom dote… Entretanto, os mais esclarecidos reuniam esforços, convocavam para entrar no “bolo” os avós, os tios e até padrinhos, num tempo em que o conceito de Padrinho e Madrinha era coisa séria!

Mas… não desdenhemos os tempos em que vivemos, pois viver é bom em qualquer tempo! E essencial para “viver” é aceitar todas as mudanças, incluir-se nelas e contribuir, em todos os momentos, de todas as maneiras, para o progresso da humanidade, para o desenvolvimento da cidadania, para o aperfeiçoamento da raça, para a EDUCAÇÃO como um todo.

E vivam os tempos modernos!

Maria Angela Pimentel Mangeon Elias

Cadeira nº 17 | Patrono Olívia Sebastiana da Silva