Hellboy
Eu tenho um carinho especial pelo personagem Hellboy, criado pelo quadrinista Mike Mignola na década de 1990. Isso porque, em 2004, eu escrevia sobre os lançamentos nos cinemas para o finado “Jornal República” e a adaptação de 2004 (protagonizada por Ron Perlman) foi o primeiro filme que indiquei. Por isso, mesmo não tendo lido nenhuma HQ do demônio vermelho do bem, sempre gostei dele.
Os filmes dos anos 2000, dirigidos pelo premiado Guillermo Del Toro, são divertidos. Depois de um tempo na geladeira, era meio óbvio que Hollywood iria descongelá-lo para fazer uma nova adaptação – ainda mais com a onda de “anti-heróis” que vem se alastrando pela indústria. Então anunciaram Hellboy, uma espécie de reboot da franquia com David Harbour no papel principal.
Conhecido como o Hopper da série Stranger Things, o ator manda bem no papel do diabão, mas é acompanhado de um elenco ruim, um roteiro péssimo e uma direção sem rumo. A trama até que é boa, mas contada de uma forma porca. O diretor Neil Marshall (mais conhecido por seu trabalho em série de TV) parece não saber o que quer contar, então tudo fica uma confusão só, com diversos elementos sendo “jogados” na cara do espectador a todo instante – sem um fio condutor para ligá-los.
Milla Jovovich (da franquia Resident Evil) está fraquíssima no papel da vilã Nimue. Sério, suas cenas são um misto de vergonha alheia e pena. Do elenco apenas o protagonista se salva, mesmo demonstrando um claro desconforto com o roteiro enfadonho. É de se lamentar isso porque Harbour ficou ótimo encarnando o personagem, conferindo um visual ainda mais casca-grossa e até bem-humorado a ele.
Os efeitos especiais são bem mequetrefes e parecem que foram feitos para séries de TV de baixo orçamento. A trilha sonora é uma genérica coletânea de rock alternativo com faixas instrumentais padrões. A “batalha final”, que deveria ser o ponto alto do filme, é tão sem graça quanto a de Esquadrão Suicida.
Para não dizer que não falei das flores, Hellboy tem um visual gore legal no último ato. Toda aquela sanguinolência foi o que faltou nos dois primeiros filmes do personagem, que eram “limpinhos” demais, por assim dizer. Outro ponto legal é que não é mais longa de origem. O surgimento de Hellboy na Terra é contado através de flashbacks, e eu prefiro quando os produtores adotam essa forma.
No mais, o filme é frustrante. Teria a chance de ser uma obra diferente dessas convencionais adaptações de quadrinhos para a telona, mas acaba sendo uma decepção só – está no nível de Venom, para se ter uma ideia. Só que não deve fazer o mesmo sucesso de bilheteria que o filme da Sony conseguiu. E nem de crítica: o filme estreou em circuito reduzido no Brasil e nem veio para a região. É, Hellboy deve encarar a geladeira de Hollywood por mais um tempo…
Nota: 1,5 estrelas