Quem seriam os inúteis?
Por André Roedel*
A quarta-feira (15) foi de protestos por todo o Brasil. Milhares e milhares de pessoas foram às ruas questionar o contingenciamento de R$ 1,7 bilhão no orçamento da Educação, proposto pelo Governo Federal. Como toda manifestação política, é claro que no meio surgiram pautas variadas – e contestações por parte dos apoiadores da atual administração. Além das críticas ao “corte”, os manifestantes também aproveitaram para criticar a Reforma da Previdência Social e levantaram bandeiras de “Lula Livre”.
Sempre tive um pé atrás com os protestos da esquerda incluírem uma defesa quase que ensandecida ao ex-presidente Lula e seus correligionários petistas. Porém, ‘desencanei’ disso após as diversas manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Se de um lado pode, o outro também pode.
Naqueles atos ocorridos entre 2015 e 2016, além de diversas camisetas da seleção brasileira, também era possível observar adereços do MBL (Movimento Brasil Livre), do partido NOVO e já era comum ver adesivos com a hashtag #Bolsonaro2018, antecipando o que viria a ser a candidatura do agora presidente da República. Algo espontâneo e válido, é claro. A democracia é bela justamente por permitir a expressão de todos.
Porém, Jair Bolsonaro em mais um momento ‘explosivo’, preferiu chamar uma parcela dos manifestantes de quarta-feira de “idiotas úteis”, “massa de manobra” e “imbecis”, numa clara forma de desmerecer a força do ato – nunca antes na história um presidente da República enfrentou tamanha manifestação contrária em tão pouco tempo no cargo.
Porém, é importante salientar que toda generalização é burra. A cada manifestante com cartaz pedindo “Lula Livre”, existiam outros 10 simplesmente manifestando ser contra o corte de verbas que pode colapsar o funcionamento de universidades, institutos federais e até o ensino básico. Assim como não é justo afirmar que todo cidadão que foi às ruas pedir o impeachment de Dilma é “fascista”, não pode ser justo dizer que todo estudante que protestou nesta semana é “massa de manobra”.
Bolsonaro tem que começar a medir melhor as palavras antes de se pronunciar. É clara a tentativa dele de inflamar seus seguidores com esses comentários e manter acesa a chama que o conduziu à presidência, porém ele agora é presidente de todos e não pode tratar seus opositores como “idiotas” – mesmo que “úteis”.
E fica uma dúvida após a fala do presidente: se os manifestantes são “idiotas úteis”, quem seriam os “idiotas inúteis”? O governo está cheio de gente que vem promovendo uma verdadeira “balbúrdia” no Ministério da Educação, com mandos e desmandos obedecendo a vontade do guru Olavo de Carvalho, e gente que vem travando uma verdadeira “guerra ideológica” dentro de outras pastas, como das Relações Exteriores e dos Direitos Humanos. Gente que até agora não conseguiu demonstrar a que veio. Seriam esses os inúteis? A conferir.
* É chefe de redação do Periscópio.