Entidade ituana acolhe venezuelanos
Por Nayara Palmieri
A ONG Crescimento Limpo, iniciativa que abriga ex-dependentes químicos em busca de um recomeço, desde meados de junho conta com uma novidade: oito imigrantes venezuelanos estão morando na casa mantida pela entidade, localizada no Centro. Isso se deu devido à parceria entre o projeto “Brasil, coração que acolhe”, da ONG Fraternidade sem Fronteiras (FSF), com a Crescimento Limpo.
A Fraternidade sem Fronteiras é uma organização humanitária atuante na África e no Brasil, com sede em Campina Grande, na Paraíba, onde tratam crianças com microcefalia. O projeto “Brasil, coração que acolhe” foi fundado em 2017, pela refugiada venezuelana Alba González. Alba trabalhava com a FSF quando a crise imigratória da Venezuela se agravou e decidiu criar um projeto que ajudasse os refugiados. De abril a dezembro de 2018 mais de 206 venezuelanos foram interiorizados pelo projeto, em estados como Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rondônia, entre outros.
Dessa vez, a cidade que acolheu os venezuelanos foi Itu por conta do programa de trabalho para imigrantes do hotel Novotel. Essa intermediação foi feita por Alba, “Por conta do trabalho na FSF, conheci muitas pessoas; uma amiga entrou em contato comigo para falar sobre a responsável do RH do Novotel que tinha disponibilizado umas vagas de trabalho para imigrantes venezuelanos. Me ofereci para ajudar, e selecionei algumas pessoas do centro de acolhimento de Roraima. Foram pessoas que eu já conhecia, sabia que eram pessoas do bem. Então fiz a seleção, acompanhei a documentação. Fui a ponte entre o RH e os candidatos”, comenta.
Os candidatos às vagas se prepararam por pouco mais de um mês, fizeram entrevistas por vídeo, mandaram currículo e conseguiram os empregos. Depois começou a busca por passagens e moradia. A FSF entrou em contato com a Crescimento Limpo, que abraçou a causa e disponibilizou moradia.
A reportagem do JP conversou com alguns venezuelanos que viveram um tempo no abrigo em Boa Vista e agora estão na Crescimento Limpo. Dulce Maria, 25, ainda não fala português, mas disse que se conversarem devagar ela consegue entender. Ela deixou os pais, a avó e um irmão mais novo na Venezuela para tentar uma vida melhor no Brasil. A jovem diz que tem muita sorte em estar na ONG, que ali ela se sente acolhida por pessoas de bem, muito diferente do que encontrou em Boa Vista, capital roraimense.
“No começo me sentia muito mal em estar aqui, algumas pessoas fechavam as portas das casas quando passava. Isso fez com que eu quisesse voltar ao meu país, mas não podia porque só daria mais trabalho para meu pai”, relata Dulce Maria. Na Venezuela, só seu pai trabalha, mas com o salário de um mês inteiro só consegue comprar alimentos para um dia. “Tenho fé que mais pra frente, com meu trabalho e meu esforço, vou ser independente e poderei ajudar minha família, trazê-los para aqui, ajudar a irem atrás de seus sonhos. Não posso deixá-los na Venezuela porque o país está à deriva” complementa.
Dixon Javier, 26, conta que não queria sair da Venezuela, mas as situações políticas e econômicas fizeram com que viesse buscar melhores oportunidades no Brasil. Sua mãe continua no abrigo em Boa Vista e seu objetivo é trazê-la para Itu. Para Javier, a recepção no Brasil não foi muito boa, nem por parte dos venezuelanos e nem pelos brasileiros. “Quando chegamos em Roraima, muitos venezuelanos já haviam feito coisas erradas, então os brasileiros estavam ficando com medo”, conta. Já no Novotel, Dixon conta que foi recebido com muita alegria.
Jhoandelys Peres, 31, deixou a mãe e os quatro filhos na Venezuela. Ela sonha em trazê-los para o Brasil o quanto antes, e mantém contato com a família diariamente por meio de mensagem. Jhoan, como é chamada, conta que tem sua casa própria em seu país natal, e que para sustentar a família tinha três empregos, sem descanso.
“Era muito ruim lá, chegou um momento que não dava pra continuar, então decidi vir embora porque tenho quatro filhos e sou a única que os sustenta, o pai abandonou” desabafa. “Por oito meses passei dificuldades aqui, pessoas mentiam sobre arrumar emprego de carteira assinada. Não nos davam emprego nenhum, muito menos de carteira assinada”, conta Jhoan, que agora está empregada no Novotel.