A Flor Amarela

A que curiosas situações podemos chegar pelo desconhecimento de um nome! Junte-se a isso o espírito aventureiro para chegarmos à história que vou contar.

Aconteceu no final dos anos 1980. Já havia computadores, mas poucos, circunscritos a universidades ou ao meio corporativo. Internet, nem pensar. Mecanismos de busca? Dicionários impressos, visitas a museus, aulas, entrevistas e conversas com quem sabe mais.

Foi quando decidi visitar, sozinha, a África negra. Angola, nação ainda em guerra interna em que vivia uma amiga que voltara para seu país de origem – e onde eu curtiria o início e fim da viagem –, e Quênia, famosa pela diversidade étnica e suas savanas habitadas por elefantes, girafas, leões e tantos outros animais que por aqui nós aprendemos a conhecer nos zoológicos.

Entre os dois países, passagem obrigatória por Kinshasa, capital do Zaire (atual Congo belga), dada a falta de conexão direta entre meus alvos de viagem. Contarei apenas a última, entre as dificuldades nessas nas duas curtas paradas nessa cidade.

Disseram-me, no aeroporto, que a falta de um carimbo no passaporte me impedia de embarcar no voo de retorno para a capital angolana. Idas e vindas, pouco se resolvia. Até que um simpático casal à espera de outro voo veio em meu socorro, e – explicado o problema – o marido conseguiu solucionar. Não era despachante, mas professor e aficionado por botânica, com quem também tive uma deliciosa conversa.

Temos no Brasil a alamanda amarela, planta que lá só se encontrava na versão com flor vermelha, explicou-me ele, sonhando em ter um espécime da variedade brasileira. Mas quem visitaria o país africano naquele tempo, para que eu pudesse satisfazer o sonho do cientista que me auxiliou?

E não é que, de volta a Itu, encontrei a pessoa? Em encontro casual, o engenheiro saltense Ismar Ferrari, ativo colaborador do Instituto de Estudos do Vale do Tietê (Inevat), contou-me que viajaria a serviço para o Zaire… e aceitou a missão que lhe dei.

Então diretora do Instituto de Botânica e, em Itu, da Associação Ituana de Proteção Ambiental (AIPA) em que eu militava, Beulah Coe Teixeira (que saudade!) encontrou o dono de uma floricultura em São Paulo que, entusiasmado, prometeu-me muda da flor amarela.

Fui buscá-la, curiosíssima. Quando vi, qual não foi minha surpresa! Eu não só conhecia tão especial espécie, como desde sempre convivi com ela na propriedade rural de minha família, aqui em Itu! Vistosa trepadeira, cujas folhas verdes e flores amarelas ressaltam as cores símbolo do Brasil.

Soubesse eu seu nome, teria obtido tal muda no jardim de casa. Só não teria simplificado a entrada de Ilmar com a planta no país africano. Quantas explicações teve de dar na alfândega, para liberarem esse ingênuo presente ao professor que socorreu a turista num aeroporto no coração da África pelos idos dos anos 1980…

 

Sílvia Virgínia Czapski

Cadeira nº 04

Patrono Dr. Benedito Lázaro de Campos