Além da fé: romaria à Pirapora do Bom Jesus vira momento de confraternização
Tradicional peregrinação também é momento em que amigos se encontram para cavalgar – mas sem esquecer a religiosidade
André Roedel
Como acontece todos os anos, milhares de fiéis participam na Semana Santa da tradicional Romaria à Pirapora do Bom Jesus. O ato, considerado de fé e determinação, reúne pessoas de todas as idades, que saem de suas casas e peregrinam até o município de pouco mais de 15 mil habitantes. Seja a cavalo, de bicicleta ou a pé, os romeiros não desanimam e prosseguem até seu objetivo – que geralmente é pagar promessa em agradecimento a uma graça alcançada.
Mas, além de ser um ato religioso, a romaria é um momento de comunhão com as pessoas. “Na verdade é uma família. Você vira amigo da pessoa que está andando com você, os filhos deles acabam virando”, comentou o advogado Nestor França, 40 anos, que há seis anos participa com o grupo da Romaria de Salto e passou por Itu na tarde desta quarta-feira (23). “É família, amizade. O cavalo proporciona isso”, disse o romeiro, montando o seu cavalo.
O principal ponto que os romeiros percorrem em Itu é a Avenida Ermelindo Maffei e a Estrada Parque. Depois desse trecho, eles vão até Cabreúva e seguem para Pirapora. O trajeto é de aproximadamente 60 km. “De Salto até aqui deu uns 12 km, mais ou menos. Daqui até Cabreúva, mais uns 20 km, e aí até chegar em Pirapora, dá mais uns 25 km. Não chega a 60 km. Vai ser feito em dois dias”, explica Nestor.
Em Cabreúva, o grupo faz uma parada e aproveita para se confraternizar. “A gente aluga um barracão, um lugar que possa deixar os animais para eles dormirem. E a gente acampa, existe uma confraternização. Virão amigos nossos de Salto, e lá a gente faz uma janta, fica até altas horas tocando moda de viola”, conta o advogado, que fechou o escritório mais cedo para participar da romaria.
E a música caipira está muito ligada a cultura dos romeiros. “É bem ligada. É raro uma pessoa do meio que não goste de uma moda de viola, de uma música raiz. É meio que unanimidade no meio”, comenta Nestor. Apesar do momento festivo e de alegria, os romeiros não deixam a religiosidade de lado. “Não fiz promessa, mas a gente respeita a questão da religião e da devoção; sou católico. E a Semana Santa é alo especial”, explica o romeiro.
Nestor conta ainda que não enfrenta problemas nas rodovias. “Na estrada a gente só encontra motivo de felicidade. A gente encontra pessoas a pé, de bicicleta, carregando as cruzes, outros cavaleiros de outras romarias. Então hoje é uma romaria muito democrática. Você pára para comer um lanche, encontra outras pessoas e bate um papo com pessoas de outros lugares. Então é extremamente eclético”, disse.
Cuidado com os cavalos
E para quem acha que os cavalos não recebem bom tratamento pelos romeiros, está enganado: os animais fazem parte praticamente da família. “O tratamento é com carinho, não tem maldade. A gente cria animal, é família. Se a gente vê pessoas maltratando, a gente tenta corrigir”, conta o presidente da Romaria de Salto, o comerciante Valmir Scalet, de 53 anos.
“O cavalo é bem tratado, você pode ver o animal. Não usa nem espora. A gente vai andar hoje menos de 30 km e dorme, pra chegar a Pirapora sem nenhum esforço, sem nenhum atropelo. Deixamos pra vir mais tarde por conta do tempo, que é mais fresco também”, conta Nestor. Os romeiros devem chegar ao Santuário de Bom Jesus de Pirapora no domingo.