Amantes do xadrez de Itu comentam repercussão de “O Gambito da Rainha”
Desde o final de outubro, quando foi lançada na plataforma de streaming Netflix, a minissérie “O Gambito da Rainha” vem conquistando todo o mundo. De acordo com a Netflix, mais de 62 milhões de casas ao retornar do mundo já ‘maratonaram’ a produção composta por sete episódios, que é baseada na ficção do livro do mesmo nome, escrito por Walter Tevis e publicado em 1983. Na trama, acompanhamos a vida e a evolução de Elizabeth Harmon (Anya Taylor-Joy), uma jovem órfã que, na década de 1950, se torna um prodígio do xadrez ainda na infância. Com o passar dos anos, a jornada da protagonista é marcada por uma rápida ascensão, ao mesmo tempo que enfrenta traumas antigos e vícios autodestrutivos.
Com fama de ser um esporte intelectual e complexo, o xadrez – que existe há mais de 1.500 anos – ganhou popularidade com a exibição da série (a busca por “como jogar xadrez” no Google atingiu o pico da década, para se ter uma ideia), com muitas pessoas, inclusive de Itu, se interessando pela prática.
Entre elas está a analista de suprimentos Emily Moskoski, de 34 anos, que após assistir a minissérie passou a se interessar pelo esporte e passou a jogar xadrez juntamente com seu esposo, Marcelo Hauser, e sua amiga, Ana Claudia Medeiros, que já jogavam antes.
“Eu gostei muito da forma como foi apresentado o jogo na série. Eu achava que era chato e desinteressante, mas a série mudou totalmente minha opinião. O jogo é muito emocionante e dinâmico. Qualquer pessoa pode jogar”, explica Emily. A mais nova amante do xadrez enaltece o esporte. “Sem contar que te ajuda a evoluir em várias coisas, como uma visão mais analítica, estratégica e principalmente a calma”.
A jovem se interessou tanto que segue buscando o conhecimento para se aperfeiçoar. “Estou assistindo vários vídeos no YouTube para aprender estratégias. Tem um conteúdo gratuito muito legal”, comenta a jogadora, que pretende um dia competir. “Ainda estou bem iniciante, vou evoluir mais um pouco e depois, por que não, não é mesmo?”.
O poeta e escritor João Affonso, de 45 anos, também enalteceu a minissérie, dizendo que a achou excelente. “Voltada para o grande público, ela toma algumas liberdades em relação à atmosfera, principalmente de torneios, mas é muito boa e foi muito positiva para o xadrez”, afirma. Porém, seu interesse pelo esporte vem de muito antes.
“Jogo desde criança e fui estudar mesmo a partir de 1990”, diz João, que explica ainda o ano exato em que seu interesse pelo xadrez começou. “Com o surgimento de (Garry) Kasparov, que destronou (Anatoly) Karpov em 1985, tornando-se o campeão (mundial) mais jovem e carismático da história (tinha 22 anos, perdendo a marca em 2005, para Ruslan Ponomariov, que tinha 18 anos)”, explica.
Já tendo disputado diversos torneios, João volta a falar sobre o impacto do “O Gambito da Rainha”. “O Grande Mestre Rafael Leitão (considerado o melhor do Brasil nos últimos dez anos) é meu amigo e relatou que houve um aumento assombroso na busca pelos cursos que ministra em sua academia”, conta.
Professor e responsável pelas equipes masculina e feminina de xadrez da Secretaria Municipal de Esportes de Itu, Romeo Salvador Freitas, que pratica o xadrez há 32 anos, tendo conquistado o título de mestre da federação internacional, relata que a minissérie impulsionou a procura pelo xadrez nos últimos dias, dizendo ter recebido diversas mensagens e telefonemas a procura de aulas particulares e cursos específicos. “Em relação ao seriado eu achei muito bom o retrato que se faz dos torneios, que é bem parecido com o que foi colocado. Também gostei bastante do roteiro”, acrescenta Romeo.
O professor, que já comandou equipes que obtiveram diversas medalhas em Jogos Regionais, ao ser questionado se houve um aumento do público feminino pelo xadrez, explica que é “é menor, mas existe. Aqui em Itu, há dois anos, tivemos uma equipe bem forte com jogadoras da cidade, como as irmãs Adriele e Andressa Prado, que inclusive venceram os Jogos Regionais, desbancando equipes como Sorocaba e Jundiaí”.
Devido à pandemia de Covid-19, as atividades na SEME seguem paralisadas e, em janeiro, os professores entrarão em férias, mas de acordo com Romeo, “se tudo correr normalmente, em fevereiro retornam as aulas em todas as modalidades”, incluindo assim o xadrez. O professor explica ainda que, além das aulas, as equipes de xadrez costumam disputar várias competições ao longo do ano nas cidades da região.