Anderson somos nós… Marielle somos nós!
Moura Nápoli
A notícia dando conta do assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes tomou de assalto o Brasil. Aliás, o termo “tomar de assalto” no Brasil mas, principalmente no Rio de Janeiro, arrepia. As execuções bárbaras mostram que o Rio de Janeiro, mesmo sob intervenção, segue sendo terra de ninguém.
O Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa, cantada em prosa e verso mundo afora, que era motivo de orgulho e alegria de ser brasileiro, hoje nos enche de vergonha e preocupação. A morte de Marielle e Ânderson, hoje, ganha contornos globais, deixa o mundo perplexo e o Brasil envergonhado.
Mas, com todo o respeito a dor dos familiares, vamos parar e pensar um pouco: quantos “Andersons” e quantas “Marielles” morrem diariamente no Brasil? Quantos anônimos acabam seus dias nas mãos de bandidos? A mercê da violência diária que vivemos neste país?
Ao que vemos, a bandidagem enfrenta e encara a polícia diariamente e, no mais das vezes, de forma impune. Por mais que os policiais possam agir, o crime organizado parece estar muitos pontos a frente. Aliás – e infelizmente – no Brasil, o crime é organizado…
Resta esperar pela repercussão, pelos ecos do acontecido. Agora nem tanto o pobre motorista, mas principalmente a vereadora seguirá na berlinda. Hoje o Brasil chora, o Brasil está chocado, o Brasil está indignado. E infelizmente, podem esperar, não demora e o acontecimento começa a ganhar contornos políticos. E contornos políticos rasteiros… Não demora e terá gente se promovendo as custas dessa desgraça.
Que Marielle Franco e Anderson Gomes possam descansar em paz, que encontrem a Luz. Mas seus nomes, principalmente o da vereadora, não demora e vai acabar virando nome de rua, de praça, de plenário, de instituto… Marielle pode até – quem sabe? – adornar alguma praça, tendo seu busto em bronze.
Resta saber se ao menos o Estado, ou o Município do Rio de Janeiro indenize e ampare as famílias. Marielle deixa uma filha de 20 anos. Ânderson fez viúva e deixou um filho de um ano. O que será das famílias?
Ninguém quer ver mortes, ninguém quer ver sangue… Mas aconteceu e está acontecido. É triste, é doloroso e como aconteceu com Marielle e Ânderson poderia ter ocorrido com qualquer outro nome mais conhecido e de destaque na vida pública ou artística (porque Marielles e Andersons anônimos, morrem diariamente e impunemente).
Tomara algo possa acontecer para mudar essa situação. Que o doloroso episódio possa servir para que o Rio de Janeiro, mas acima de tudo, para que o Brasil comece a mudar realmente. O Brasil é um país de gente honesta, de gente boa em sua essência. Será que um dia nosso país vai começar a tomar o rumo certo?
Quantos Andersons e quantas Marielles terão de perecer, abalar e chocar o Brasil e o mundo para que esse país de grandes riquezas naturais e humanas finalmente possa melhorar? Para que os políticos passem a trabalhar sem visar seus próprios interesses e que a corrupção comece – pelo menos comece – a dar lugar a honestidade?
Quantos Andersons e quantas Marielles terão de perecer, abalar e chocar o Brasil e o mundo para que o crime organizado comece a perder seu espaço para a honestidade e retidão? São perguntas que ficam no ar. São perguntas que terão, um dia, alguma resposta?
A verdade é que hoje cada um de nós é um pouco de Ânderson Gomes, um pouco Marielle Franco. Somos todos nós – os honestos, os retos, os puros de coração – as vítimas.