Após ataque à sede da Kia, Gandini pede providências às autoridades
Presidente da Kia acredita que manifestantes estão envolvidos em atentado e quer a saída deles dos arredores de sua empresa
André Roedel
O ataque à sede da Kia Motors do Brasil, ocorrido na madrugada da última quarta-feira (26), preocupou o presidente da empresa, José Luiz Gandini. O empresário ituano acredita que o caso esteja relacionado ao grupo que protesta há mais de dois meses em frente ao prédio. “Nunca tivemos esse tipo de problema, é muita coincidência ocorrer agora que eles estão aí em frente”, disse ao “Periscópio”.
“Eu não posso afirmar que foi esse movimento que colocou as bombas, mas se tivesse que apostar, apostaria que foram eles”, declarou Gandini, informando que outros incidentes envolvendo caminhões da Transilva ocorreram recentemente – incluindo um caminhão com carros da Kia que foi incendiado em Belo Horizonte (MG).
“Minha família é de Itu. Faz 68 anos que o grupo Gandini está sediado aqui. Meu pai é daqui, eu sou daqui. Graças a Deus em todo esse tempo nunca tivemos problemas com clientes e entidades de classe. Não temos inimigos”, disse o empresário, que quer a colaboração das autoridades ituanas.
“Nós fomos muito bem recebidos pela Polícia Militar, pela Polícia Civil e pela Guarda Municipal, mas eles vêm aqui quando a gente chama, quando o negócio está impossível de se manter, botam ordem na casa e vão embora. Viram as costas e eles começam toda aquela bagunça de novo. Eu estou trabalhando, há mais de 30 dias, com a porta da empresa fechada”, relatou.
Gandini chegou a solicitar que o juiz do Fórum de Itu determinasse que os manifestantes ficassem a 1 km da sede da empresa. “O juiz passou por aqui e disse que o protesto é pacífico, que não tinha por que tirar. Nós recorremos ao desembargador em São Paulo, que ligou para o juiz daqui, que disse a mesma coisa”, relatou o empresário, que discorda.
“Não dá mais para trabalhar. Eles param o carro de som aqui em frente e ficam tocando música o dia inteiro e falando bobagem”, disse o presidente da Kia. “Eles mexem com as funcionárias quando elas saem na hora do almoço. Tem muitas que estão almoçando aqui dentro porque têm medo de sair”.
“Está ficando uma situação insuportável, e eu tenho medo, sinceramente, que isso possa aumentar ainda mais. Tenho medo de um homicídio, de um funcionário meu ser atacado por eles. Eu não sei o que pode acontecer”, teme o empresário.
Início dos protestos
De acordo com Gandini, os protestos tiveram início a partir do momento em que a Kia, em agosto deste ano, contratou uma empresa de logística para realizar o transporte dos veículos, que são importados, até as revendedoras. “Nós acertamos com a Transilva para fazer esse transporte para os concessionários do Brasil inteiro. Agora, se você comprar um carro da Kia em qualquer lugar do Brasil é o mesmo preço”, explicou o empresário.
Ele ainda comentou que recebeu uma comissão de manifestantes logo no início dos protestos. “Eles disseram que queriam continuar trabalhando com a Kia, se dizendo transportadores autônomos”, contou Gandini, informando ainda que orientou que os mesmos procurassem a Transilva, que iria repassar parte dos transportes a eles. O empresário também deixou as portas da empresa abertas aos manifestantes. “Estava um frio danado, dei uma jaqueta para cada um deles”.
Gandini disse aos cegonheiros que eles estavam protestando no lugar errado. “Eles nunca prestaram serviço para a Kia Motors do Brasil, mas para um concessionário. Então eu não estou tirando eles da jogada”, disse. Porém, mesmo com a explicação, os autônomos resolveram seguir protestando, com faixas dizendo que 200 famílias estão passando dificuldades por conta da falta de fretes.
Conta não bate
Gandini também apresentou um gráfico com o volume de fretes realizados por todas as transportadoras no primeiro semestre, antes de contratar a Transilva. Os dados mostram que as outras empresas que prestavam serviço para a Kia (Brazul, Tegma e Transcar) necessitavam de apenas 10 caminhões-cegonha para o transporte. “Então por que tem 200 famílias passando fome? Isso é mentira; não tem lógica. Eles estão enganando o povo de Itu. Esses caras não são transportadores de automóvel; é gente contratada”.
Manifestantes ‘de aluguel’
O empresário relata ainda que esses autônomos contrataram pessoas para participar da manifestação, já que eles precisavam trabalhar. “Eles contrataram pessoas, que não são caminhoneiros, todos na faixa etária de 18 a 25 anos, para vir fazer esse circo aqui na frente”. Segundo informações que o empresário obteve, essas pessoas contratadas para protestar recebem de R$ 30 a R$ 35, mais um lanche, como forma de pagamento.
Investigação
Os protestos são investigados pelo Ministério Público Federal de São Bernardo do Campo (SP), que intimou Gandini a prestar um depoimento. “Eu fui intimado a comparecer ao Ministério Público Federal e prestei um depoimento na última segunda-feira (24). Eu contei tudo que contei a você. Eles estão com um processo grande em cima disso. Dizem eles de cartel”, comentou.
Em agosto, o MPF recomendou o fim dos protestos. Segundo a investigação do órgão, os empresários do setor de cegonheiras querem forçar mudanças no acordo entre a Kia e a Transilva para que as duas companhias dividam o serviço com outras empresas do ramo, desrespeitando, segundo o MPF, a livre concorrência.