Artigo: A Educação em Itu
Por Plinio Bernardi Junior
Períodos curtos de melhorias políticas e sociais não resistem a crises econômicas. Só conseguiremos romper o ciclo perverso da pobreza e reduzir as desigualdades quando TODAS as crianças brasileiras tiverem a mesma oportunidade de desenvolvimento. E isso significa proporcionar a todos uma formação escolar sólida e sintonizada com a nova realidade do mundo. A pandemia escancarou as diferenças já enormes entre escolas públicas e privadas no Brasil. Todos perderam, mas os alunos das escolas públicas perderam muito mais. Elevar a educação pública ao patamar em que nossas crianças precisam não é tarefa fácil. Em Itu, a Cruzada Pela Educação nasce como um projeto para mudar a atual ordem das coisas e começa a tomar forma.
As bases desse projeto são: a valorização da gestão escolar, a valorização do tempo pedagógico e a valorização do magistério. Na cidade de Itu, em um dia letivo, mais de cem professores estão fora da sala de aula. Seja por motivos de saúde, seja por direito de se ausentar ou outro motivo qualquer. Não me cabe julgar direitos adquiridos, que precisam ser garantidos, nem tampouco as razões para que algumas leis tenham sido criadas no passado. Provavelmente, no momento histórico em que tais direitos foram criados, eles faziam sentido. Hoje, diante de uma realidade diferente, um novo contexto se faz necessário. Professores, diretores e equipes gestoras irão receber bônus por desempenho dos alunos em salas estratégicas. Além disso, foram reajustados os pagamentos para supervisores e equipes gestoras, antes defasados em relação à responsabilidade que esses cargos exigem. O incentivo à presença docente e ao relacionamento afetivo entre professores e alunos, que tanto influenciam na aprendizagem, são os focos aqui.
O tempo da criança em sala de aula é outro fator primordial. Assim como cada minuto a mais de um bebê no ventre da mãe faz toda a diferença numa gestação, cada minuto de uma criança em aula importa muito. Quinze minutos por dia que, por algum motivo, a criança não esteja em aula, significam cerca de oito dias a menos na escola em um ano. Isso é muito! Todos os esforços serão concentrados para que cada minuto valha, e para buscar cada criança que tenha faltado à aula, em todos os dias. Nas nossas escolas, uma falta de uma criança em um único dia importa muito e a Cruzada Pela Educação tem estratégias para reduzir tais ausências.
A capacitação constante de todos os professores, modernizando e intensificando o que já é feito, consiste em outra estratégia. Novas tecnologias, conteúdos e metodologias fazem com que a aprendizagem contínua de todos os docentes seja outro foco necessário do projeto. Além disso, processos internos selecionarão docentes que desejem fazer parte de equipes gestoras das escolas, afastando definitivamente a possibilidade de interferências políticas nessas escolhas.
Nesse primeiro momento, as ações priorizarão três séries específicas, que chamamos de salas estratégicas. A segunda fase, crianças com 5 anos, e os primeiros e segundos anos, crianças de 6 e 7 anos. A razão é que nesses três anos, se prepara, se inicia e deve se encerrar o ciclo da alfabetização. Outro foco do projeto é que toda criança seja alfabetizada na idade certa, propiciando que todos os demais conteúdos (Ciências, História, Geografia, Matemática, etc) possam ser assimilados com mais facilidade e autonomia. Uma criança de sete anos que consegue escrever com desenvoltura, ler e interpretar com autonomia textos adequados à sua idade, está preparada para os desafios que o restante de sua vida escolar e que todo o seu futuro possa apresentar.
A infraestrutura também é muito importante nesse processo. Novas escolas em tempo integral estão sendo planejadas. A meta para os próximos anos é que quatro mil alunos do ensino fundamental fiquem o dia todo na escola, com educação de qualidade, alimentação balanceada e participando de atividades para seu desenvolvimento pessoal, muito além do que exige hoje a Base Curricular do Ministério da Educação. Hoje todos os cerca de 4300 alunos das creches e escolas de educação infantil ituanas passam o dia na escola, recebendo cinco refeições balanceadas e de qualidade.
Alguns projetos especiais, implantados nos meses recentes como pilotos, também estão em fase de evolução. O projeto Mentalidades Matemáticas usa metodologia desenvolvida na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e em parceria com o Instituto Sidarta visa desmistificar a imagem da Matemática para nossas crianças. O projeto Educação Patrimonial, debaixo do guarda-chuva da UNESCO, está apresentando a história de Itu para nossos alunos, por meio de excelente material desenvolvido especialmente para esse fim pela equipe da Secretaria Municipal de Cultura, e que faz uso dos princípios metodológicos desenvolvidos na Reggio Emilia italiana. O piloto de um Espaço Maker está sendo criado na Rede Saber 3, Profa. Rachel Steiner Leitão, e servirá para alunos e professores terem contato com tecnologias e metodologias ativas, inclusivas e disruptivas. Na Rede Saber 4, nova escola a ser inaugurada na região da Cidade Nova, além da estrutura de seu moderno prédio, será iniciado um piloto bilíngue, que conta com apoio de escolas bilíngues de Itu, além de profissionais de importantes instituições de ensino superior do Brasil.
Nesse momento, marcado pela polarização política, é necessário ter coragem para mexer em estruturas cristalizadas, persistência para garantir o que precisa seja feito, resiliência para levantar após os percalços que virão e colaboração de toda a comunidade, para que o principal objetivo continue sendo a criança. A educação é a única via de escape da criança para se desvencilhar da condição social de seus pais e avós. Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver, os quatro pilares da Educação (UNESCO), são a forma de se ter mudanças sólidas e reais na vida de uma criança.
A base está sendo construída e posta, mas o ritmo do avanço da Cruzada pela Educação em Itu depende do compromisso de toda a sociedade. Alunos, pais, professores, gestores e, em última instância, todos os cidadãos têm o dever de participar e se manifestar pela educação. A omissão não é uma opção nesse momento tão importante.
Em última análise, a educação é a forma como a sociedade replica e muda o pensamento, ea melhor maneira de mudar um sistema é mudar a dinâmica desse replicador logo no início, antes que uma situação se torne irreversível. As mudanças na educação levam uma geração para aparecer. Adiar o começo significa sacrificar vidas e futuros. A hora é agora e o sonho de uma educação pública municipal de qualidade está ao alcance das mãos. Uma família brasileira leva nove gerações para romper o ciclo da pobreza. A educação pública, gratuita e de qualidade é o único atalho para essa situação cruel. Ninguém disse que será fácil, o caminho será longo, mas não há recuo quando o assunto é salvar vidas.
*É Secretário de Educação do Município de Itu