Ato em defesa da vida acontece neste domingo na cidade, e divide opiniões
Por Nayara Palmieri
O aborto – interrupção da gravidez, que pode acontecer espontaneamente ou não – é um assunto muito delicado, que envolve questões morais, políticas, religiosas éticas e pessoais, o que o torna um assunto polêmico. No Brasil, o aborto é ilegal, considerado crime com penalidade de um a três anos à gestante que aborta; três a dez ano a quem realiza o aborto e/ou à pessoa que induz uma gestante, considerada incapaz, a abortar.
O aborto só é permitido no Brasil em três casos, sendo eles: em caso de estupro, somente se a mulher for à polícia e se submeter ao exame de corpo delito; se a gravidez for de risco para a mulher, com comprovação médica e se o feto tiver alguma doença grave comprovada durante a gestação, como no caso da anencefalia. Ainda nesses casos, o aborto não é bem visto por grande parte dos brasileiros, fazendo, muitas vezes, com que mulheres que passaram por esse procedimento, sofram preconceito.
Em agosto de 2018 a discussão sobre a legalização do aborto chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde uma ação que poderia permitir o aborto voluntário feito nas primeiras 12 semanas de gestação foi julgada. Apesar disso, ainda não há expectativa de mudança na legislação.
Opinião da população ituana
O assunto voltou a ser pauta em Itu decorrente ao “ato público em defesa da vida” previsto para acontecer neste domingo (08), das 11h30 às 12h30, na Praça do Carmo. Segundo os organizadores, o “Eu Abraço a Vida” tem como objetivo sensibilizar a população a respeito dos impactos do aborto na vida da mulher e da sociedade e mobilizar a opinião pública e os responsáveis pelas decisões que envolvem a descriminalização do aborto.
A ação é uma iniciativa em conjunto das paróquias, comunidades, pastorais e movimentos católicos e igrejas evangélicas da cidade de Itu “em defesa da vida em sua existência conceptiva, contra o aborto”. Durante o ato público, haverá orientações com Pe. Antônio Ferreira da Silva (Padre Ton); Dr. Eurico Malagodi, Médico Ginecologista e Obstetra; e Douglas Medeiros, vereador da cidade de Jundiaí e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Vida, entre outros.
Também segundo os organizadores, o ato foi criado diante da possibilidade de o STF julgar o pedido para a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Mas, segundo a presidente do PSOL Itu, Michelle Duarte, “essa história de que o assunto voltou a ser discutido no STF é uma falácia”.
Michelle é a favor da legalização do aborto. Para ela, garantir que todas as mulheres tenham direito ao aborto legal e seguro é garantir que as elas tenham autonomia sobre seus corpos. “Hoje não podemos dizer que não existe aborto no Brasil. Ele já acontece, para além dos casos previstos em lei, ele também acontece em clínicas clandestinas, e coloca em risco a vida de milhares de mulheres diariamente”, continua.
“A maternidade é uma construção social, nunca foi e ainda não é pensada como escolha, mas como obrigação, ancorada na afirmação de que é da natureza feminina. Quando o debate do aborto vem para o ambiente público, normalmente não é o aborto em si, mas a negação dessa natureza que está em cheque”, aponta a psolista.
A graduanda de psicologia Manoela Dias também defende a legalização. “Legalizar o aborto não significa torná-lo obrigatório a todas, mas sim possibilitar uma escolha à mulher, que deve ser vista como dona de seu corpo e dos seus direitos de reproduzir ou não. Diferente do que acreditam, legalizar este fenômeno não é incentivar o ato, mas sim possibilitar que quando escolhido pela mulher, seja feito de maneira digna, preservando a saúde – tanto física quanto mental – da mesma”, declara.
O Padre Fernando Meira é contra o aborto. “Eu sou a favor da vida, dom de Deus, que inicia na fecundação e se estende até o último respiro. Luto e defendo a vida. Acredito na vida eterna, reservada para aqueles que na sintonia com o Criador vivem no amor”, declara. A advogada Cidinha Cardoso Pinheiro compartilha a mesma opinião do Padre. “Como existe vida desde o momento da concepção, entendo que devemos proteger o nascituro, garantindo-lhe o sagrado direito de crescer em idade, sabedoria e graça”, comenta.
A psicóloga Margarida Christofoletti é contra a legalização em qualquer situação. Em caso de uma gestação fruto de um estupro, Margarida defende que se a gestante não quiser manter a criança, deve colocá-la para adoção. “O crime deve ser punido, a mulher ajudada e a criança tem o direito de ser preservada”.
A arquiteta e catequista Paula Moraes acredita que da mesma forma que Deus dá a vida e ninguém tem o direito de tirá-la, não tem porque alguém abortar, tirar uma vida por “um egoísmo”. É como egoísmo que Paula vê o ato do aborto. “A gente não está falando de um objeto, estamos falando de uma pessoa, de uma vida. Claro que é a opinião de cada um, mas devemos ter essa sutil delicadeza de tratar a vida com respeito”, finaliza.