Batata Quente
Por Sarah Vasconcellos
Não é só o clima que está quente, mas a batata também. E ela passa de mão em mão e parece queimar a todos. A existência do mosquito Aedes aegypti é essa batata e quem poderá eliminá-lo? Todos podem ser heróis desta história, só falta mesmo coragem de assumir essa possibilidade.
Já é bem cansativo acompanhar pela mídia o número imenso de reclamações por vias sujas e repletas de entulho, terrenos abandonados e cheios de mato, calçadas idem. E ouvir essas reclamações? Quem trabalha na imprensa tem divulgado notícias como essas incansavelmente, dia após dia.
De um lado um povo que clama por soluções por parte do governo. De outro, um poder que parece não ter tanto poder de execução. E quem ri no final? O Aedes aegypti, que se desenvolve alegremente em águas paradas no meio desse lixo todo.
Se existe realmente esse lixo todo espalhado por aí, é porque existe alguém cansado de guardá-lo em casa, não é não? Imagina trocar o sofá velho por um novo e deixar aquele trambolho antigo dentro da casa! Impossível!E o que fazer diante dessa situação? Tocar fogo ou jogar na rua, claro!
Isso passa pela cabeça de muita gente e não para por aí. Ah, é só um papelzinho de bala, uma bituca de cigarro, um copo descartável, uma garrafa plástica, um sofá, guarda-roupa, cama, colchão, eletrodoméstico e até computador sem uso. Esse montão de objetos é descartado com uma frequência absurda pelas ruas, e não somente em Itu, mas infelizmente essa parece a cultura do povo brasileiro. O que não me serve mais vai para o lixo, ou seja, para a rua. Ah, ia me esquecendo, toda essa tralha vai também para os rios ou córregos, o que já tem causado alguns pontos de enchente em Itu.
De quê adianta cobrar das autoridades uma cidade melhor para se viver se é o povo o culpado por parte da manutenção da mesma? A verdade dói, mas é única: todos são culpados. É bem conveniente dizer que a corrupção só existe entre os políticos. E você aí, nunca cometeu uma infração na vida e depois pediu ajuda de uma autoridade para se safar disso? A consciência é traiçoeira, pois uma hora ou outra ela faz você se lembrar de algum ato falho.
Sinceramente não vejo problema algum de pegar uma enxada para carpir a minha calçada, se observar o mato alto. E catar o lixo que está na rua enquanto levo o cachorro passear (ah, e o coco dele também!)? Problema algum. O problema maior é pensar que esse tempo gasto com coisas deste tipo poderia ser utilizado para algo mais útil, isso não fosse a falta de respeito do meu próximo, que insiste em sujar a minha cidade, com o lixo que ele já aprendeu que deve ser jogado na lata do lixo.
Muitos adultos parecem voltar no tempo, ao se comportarem como crianças, como se ainda fossem ingênuos e não soubessem se portar como cidadãos de verdade. Para quem insiste em se comportar dessa maneira, está mais do que na hora de consultar sua consciência para admitir que errar não é mais permitido, afinal a lição já foi passada há tempos e quem a assimilou deve se orgulhar por ter conquistado poder de ser livre e claro, responsável por cada ato.
E essa reflexão vale igualmente aos comandantes das cidades. Por que antes de se elegerem, os olhares dos políticos são tão voltados para a cidade onde vivem e depois de eleitos, esses mesmos olhos se fecham? Perdão! Peço desculpas pelo equívoco. Os olhos se abrem novamente, de anos em anos, na época das eleições (inclusive estamos em ano eleitoral). Como é imoral ver tudo isso de perto!
E como solucionar tantos problemas? Ir à luta! A ação é a solução! Até parece slogan de político, mas raramente se vê um deles arregaçando as mangas. Aliás, dá pra contar nos dedos quem é o vereador ituano visto andando pelas ruas da cidade, frequentando a feira livre ou mesmo perambulando pelos shoppings ituanos. Isso vale ainda para o poder executivo.
Só se conhece o local onde se vive, se houver participação efetiva e constante. Custa muito deixar o carro estacionado um pouco mais longe e sair por aí caminhando, encontrando e conversando com o povo? É, a cobrança seria uma grande pressão, não é mesmo? Mudando os protagonistas, em qual lugar do passado ficaram as sociedades de bairros, que lutavam pelo bem estar dos moradores?
É fácil criticar usando as redes sociais. Por que não montar um grupo do próprio bairro e se reunir constantemente para juntos, unirem ideias e projetos para ações concretas de mudanças? Que tal esse mesmo grupo se reunir em um final de semana, para fiscalizar se o vizinho está juntando entulho e consequentemente focos do temível Aedes aegypti? E se todos fizessem uma “vaquinha” e contratassem um serviço de caçamba para jogarem o entulho?
Itu conta com vários ecopontos espalhados pela cidade, locais próprios para receberem o entulho, caso ninguém queira ou possa gastar para descartar o lixo. Assim como diz o projeto, qualquer munícipe pode levar gratuitamente entulhos de construção, podas verdes, recicláveis, móveis velhos e eletrônicos. Chega de colocar a culpa nesse ou naquele. Que tal agir mais e reclamar menos? Quem sabe com mais atitude e menos “mimimi” ainda podemos ter esperança de deixar um mundo um pouco melhor para as gerações futuras? A batata quente pode esfriar.