Caso de racismo durante a gravação de podcast em Itu deverá ser investigado
Recentemente, apresentadores de um podcast gravado na cidade de Itu sofreram ataques racistas em uma rede social. O caso ocorreu no dia 26 de janeiro e o boletim de ocorrência foi registrado na última terça-feira (08), na Delegacia Central.
De acordo com informações registradas em boletim de ocorrência, o casal Leonardo de Moraes Souza e Susley Fernanda Silva Rodrigues apresentava um episódio “Pretos de Itu”, abordando assuntos sobre saúde mental e questões raciais. Um dos pontos debatidos foi a conversa que a cantora Naiara Azevedo teve com o ator Douglas Silva sobre racismo no reality show “Big Brother Brasil”.
Porém, durante a entrevista com a psicóloga Rosália Maria Rodrigues de Campos [tia de Susley], dois perfis de usuários passaram a postar comentários racistas direcionados aos apresentadores e a convidada, bem como a todo o povo negro.
Após o encerramento das gravações, as vítimas informaram que os ataques tiveram sequência, piorando o teor, com cinco perfis (ao invés de dois) enviando mensagens racistas e fotos de armas de fogo, dizendo para que deixassem a denúncia de lado.
Temendo pela integridade física, o casal registrou o boletim de ocorrência. Ao JP, Dra. Márcia Pereira Cruz, Delegada Titular de Polícia Civil de Itu, responsável pelo caso, destaca que será instaurado um inquérito policial para a devida apuração dos fatos e da autoria delitiva.
Repercussão
O JP conversou com Susley, que comentou sobre o caso. “O que as pessoas enxergam como um pequeno ato racista aqui, vai resultar na morte de alguém ali. Ao mesmo tempo em que a gente denunciou o que aconteceu aqui, uma pessoa preta foi morta no Rio de Janeiro [o congolês Moïse Kabagambe], outro foi xingado em um campo de futebol e por aí vai”, afirma. “Realmente é a gente não ser tolerante à intolerância e o podcast vem justamente para isso, a gente não vem pra propor nenhuma luta de uma etnia contra a outra, pelo contrário, a gente vem para falar um pouco da nossa história com pessoas que estudaram a respeito”, destaca Susley.
“Sabemos muito pouco da gente e esse direito foi roubado um pouco da gente, que vem buscando, através de estudiosos, informações ao nosso respeito mesmo enquanto povo preto”, prossegue a apresentadora. “Fiz uma denúncia na Secretaria de Cidadania e fiz o boletim de ocorrência por racismo e injúria racial e crime de ameaça, para inibir esse tipo de atitude, principalmente nas transmissões futuras”, explica Susley.
A apresentadora prossegue. “Eu acredito que atos como esse ainda aconteçam porque primeiro as pessoas se sentem à vontade em fazer esse tipo de coisa com as pessoas pretas, porque elas acreditam que realmente isso não vai dar em nada, mas a gente sabe que vem de uma intolerância, uma intolerância de nossa existência e uma intolerância à existência de alguém é morte.”
“Não vou ficar quieta, as pessoas podem falar que é vitimismo, mas eu sei que esse tipo de ofensa aqui representa a morte de alguém em um outro lugar. Tudo isso por conta dessa cultura racista”, desabafa a apresentadora. “Já deu tempo das pessoas aprenderam, elas continuam sendo assim porque realmente não aceitam a nossa existência, a nossa visibilidade”, conclui.
Via de regra, racistas são seres abjetos, frustrados, fracassados e desumanos…
No entanto, a descrição dos termos racistas utilizados nos ataques, na matéria do jornal, é algo desnecessário. Serve apenas para dar mais visibilidade a esses marginais.