Cidade Filipina: saiba o que Itu tem a ganhar com descoberta histórica
No último dia 26 de abril, durante a 12ª Sessão Ordinária da Câmara de Vereadores, a secretária municipal de Cultura e do Patrimônio Histórico de Itu, Maitê Velho, e o diretor de Patrimônio Histórico da pasta, Dr. Emerson Castilho, fizeram uso da Tribuna Livre para falar sobre descobertas históricas que apontam Itu como uma cidade de matriz urbanística hispânica.
Com base nos dados apresentados, a pasta iniciou uma campanha para que a cidade de Itu seja declarada um Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como 178ª Cidade Correspondente às Ordenações Filipinas do Século XVII e também como única cidade de matriz urbanística hispânica preservada no Brasil.
Em 27 de agosto do ano passado, Maitê Velho e Emerson Castilho fizeram uma visita institucional ao consulado Geral da Espanha, em São Paulo, apresentando a possibilidade da candidatura de Itu a Patrimônio Mundial pela Unesco, como centro histórico preservado de matriz filipina no coração da “América Portuguesa”. O encontro foi com o Cônsul Geral, Miguel Gomes de Aranda y Villén e com o Cônsul Adjunto, Gonzalo Javier Moro. Na ocasião, o município ituano presenteou o Consulado com cópias dos mapas que atestam a relação histórica entre a cidade e a Espanha.
“Itu seria uma vila ibérica no coração da América. Nós descobrimos que a origem de Itu é espanhola”, afirmou Castilho. O especialista contou que, durante as escavações arqueológicas no entorno do Cruzeiro Franciscano (que passa por restauro), foi possível constatar que o território de Itu foi ocupado em 1580, sendo 1610 a data institucional de fundação do município.
“Hoje a gente já tem um amadurecimento acadêmico para poder confirmar essa hipótese de que as Ordenações Filipinas de fato modelaram o Centro Histórico de Itu. Então nós somos uma cidade com uma certidão de nascimento ligada definitivamente à Espanha”, disse o diretor. O modelo urbanístico das Ordenações Filipinas refere-se ao Rei Filipe II, que era o rei da Espanha e, alegando parentesco com Dom Sebastião, que era o rei de Portugal e faleceu sem deixar herdeiros, assumiu o trono e anexou o território por português ao espanhol, formando a União Ibérica em 1580.
O Rei Filipe II promoveu a ida de artistas e arquitetos italianos para a Espanha, com o objetivo de difundir o modelo renascentista fundamentado por Vitrúvio de como ordenar cidades a partir de modelos urbanísticos, preservando ao centro uma “Plaza Maior” e nos quatro pontos cardiais ordens religiosas.
O Modelo Urbanístico de Ordenações Filipinas fundamentaram o planejamento urbano de todas as cidades da América Latina do México ao Chile. O Dr. Emerson Castilho explica que, com o apoio de uma rede de entidades e universidades parceiras, formulou e apresentou um estudo à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), que deverá criar uma lei estadual reconhecendo a cidade como de matriz espanhola.
A proposta foi apresentada na Embaixada da Espanha em Brasília/DF. “O Governo da Espanha nos apoia nessa candidatura e se dispôs a fazer um movimento tanto político quanto investir no município”, diz o diretor de do Patrimônio Histórico de Itu.
Segundo ele, a pesquisa de Itu como cidade filipina surgiu de um pensamento do professor Marcos Tognon, da Unicamp. “Nós desencadeamos uma série de processos de estudos, encontramos documentos, cada vez mais essa hipótese tem se consolidado a medida que nos começamos a vislumbrar a possibilidade de pedir uma candidatura de patrimônio da humanidade pela Unesco e os ganhos para a cidade são imensos”, comenta Emerson ao Periscópio.
O que Itu ganha?
Sobre as vantagens e possibilidades, Dr. Emerson destaca que, tornando-se patrimônio da humanidade pela Unesco, Itu passaria a entrar no rol internacional de Cidades Históricas. “O Estado de São Paulo não tem nenhuma cidade ainda que tem o centro histórico tombado com essa chancela da Unesco e isso garantiria para a cidade um desenvolvimento ímpar de toda a parte de hotelaria, turismo, prestação de serviços”.
A secretária Maitê Velho também falou ao JP. “Através das pesquisas dos últimos dez meses, cada vez mais nós temos percebido a notoriedade que essa cidade teve para desenvolvimento desse país”. Maitê destaca que o desenvolvimento não é só na área política, mas também na área econômica, artística e arquitetônica. “Mais do que o símbolo que a chancela da Unesco possa nos dar é o percurso do desenvolvimento de pesquisa o quanto isso está enriquecendo os elementos da cidade para que a gente possa trazer para o turismo as inovações também de conteúdo histórico, religioso, arquitetônico e político”, diz ela.
“Então o nosso trabalho ultimamente está sendo o de ‘caçadores de tesouros’. Na verdade é nem redescobrir a cidade, mas é descobrir realmente a cidade e através desses elementos democratizar esse conhecimento para que o pertencimento seja inerte em todos nós”, acrescenta a comandante da pasta. Maitê destaca ainda a importância de se dar elementos para que a economia criativa possa ser fomentada. “Isso é no turismo, no desenvolvimento de produtos, em cursos, atrativos que a cidade vai acabar arrebanhando nesse movimento”.
O prefeito Guilherme Gazzola (PL) também falou à reportagem, enaltecendo a história do município. “Itu já tem uma história maravilhosa e você acrescentar a essa história um marco que pode fazer de Itu uma cidade reconhecida pela Unesco, isso ganha em qualidade e mostrar essa ligação como Cidade Filipina, época do Rei Filipe em que se estabelece essa relação entre Espanha, Brasil e Portugal. Isso é fantástico. Quem conhece a história consegue fazer um presente bom e um futuro magnífico”, conclui.