Cinerama: A Família Addams
Por André Roedel
Desde que foi criada pelo cartunista Charles Addams lá nos anos 1930, a Família Addams ganhou diversas versões – seja na TV ou no cinema. Para os mais velhos, a memória que fica é da série da década de 1960 exibida pelo canal norte-americano ABC. Para a geração seguinte, o filme de 1991 com Anjelica Huston e Raúl Juliá foi marcante. Faltava, então, que a atual geração tivesse contato com a família mais esquisita de todas.
É aí que vem a nova versão de A Família Addams, que acerta em levar os personagens ao público infantil em forma de animação, e não com atores de verdade. É muito mais fácil para as crianças se conectarem com a história dessa forma, além de permitir tomadas mais ousadas que, mesmo com o avanço tecnológico, não seriam possíveis em um live-action convencional.
Na nova versão, os Addams vivem fugindo de pessoas consideradas “normais” até que encontram um sanatório que se torna o lar deles. Passados 13 anos, Gomez e Morticia começam a se deparar com novos problemas, como a vizinhança “diferente” e os dilemas dos filhos Wandinha e Feioso, já adolescentes.
A animação tem piadas inocentes, mas uma pontinha de humor negro. A animação é bem-feita e a mensagem, como um bom filme do tipo deve ter, é bacana. Fala sobre aceitação das diferenças e tece uma crítica à “normalidade”. Porque, afinal, o que é ser normal? Mas não sai muito disso. Poderia explorar melhor esses conceitos, mas acaba engessado muito na fórmula para não arriscar.
O “conflito” apresentado, que é com a proprietária das residências vizinhas à mansão dos Addams, é fraco e batido. O dilema vivido por Wandinha, que renderia diálogos mais interessantes e se assemelharia à personagem que foi vivida por Christina Ricci no filme de 1991, acaba passando na telona de forma vazia, sem o peso necessário. Tudo é muito raso até para uma produção infantil.
É claro que existem as partes boas. Há muitas piadas hilárias e a trilha sonora é ótima. A dublagem original, que conta com nomes como Chloë Grace Moretz, Oscar Isaac e Charlize Theron, foi bem escolhida e conferem aos personagens o tom misto de pavor e graça que sempre foi a marca registrada deles.
No fim fica aquela sensação que A Família Addams poderia ir além e, como as animações da Pixar, conversar tanto com crianças quanto adultos. Porém, a produção prefere focar mais no público infantil e tenta fisgar os mais velhos apenas pela nostalgia. A mim não conseguiu fisgar. Ao menos me diverti em algumas cenas.
Nota: ☆ ☆ ½