Cinerama: Rambo: Até o Fim
Por André Roedel
Na onda de resgate de grandes franquias do passado, um dos personagens mais emblemáticos do cinema de ação norte-americano não poderia ficar de fora. O eterno soldado John Rambo, vivido pelo interminável Sylvester Stallone, ganha seu quinto e provavelmente último filme em Rambo: Até o Fim, uma produção sofrível.
A começar pelo próprio Stallone, que já virou uma caricatura de si mesmo. Sua atuação é automática e igual em todos os filmes que participa, em especial da franquia Rocky. Por mais que consiga se destacar vez ou outra, como foi na excelente participação em Creed: Nascido para Lutar, o grande astro do cinema das décadas passadas parou no tempo.
Falando em tempo, a premissa de Rambo também ficou esquecida no passado. Toda a trama de guerra se fazia interessante na década de 1980, com os EUA em conflito pelo mundo. Hoje, com outros tipos de guerra acontecendo (bem diferente daquelas de anos atrás), a figura do soldado programado para matar fica destoante.
Para piorar, o quinto filme da franquia traz uma história simplória e repetitiva. Adota um tom episódico demais. Na trama, vemos Rambo ainda atormentado por seu passado e deslocado da sociedade protegendo uma família na divisa com o México. Porém, uma perda envolvendo traficantes mexicanos de drogas e de mulheres faz com que o espírito da vingança floresça no personagem, que parte para uma guerra pessoal.
Além de previsível, o roteiro carrega demasiadamente nos estereótipos dos vilões mexicanos. Rambo vira uma espécie de defensor da política xenofóbica de Donald Trump, presidente dos EUA. Até uma tomada de um muro que divide os países da América do Norte é destaque no filme, dirigido por um fraquíssimo Adrian Grunberg.
Nem mesmo as interessantes cenas de hiperviolência do último ato – com muito gore – fazem valer o longa-metragem, que poderia ser resumido em um curta (boa parte das tomadas presentes na obra são para encher linguiça). Há uma cena em especial, já na conclusão do filme, que é digna de risos de tão brega que acabou ficando.
Assim como o personagem principal, Rambo: Até o Fim é um filme deslocado de seu tempo e que foi feito para agradar alguns saudosistas do soldado e daquele cinema oitentista, que produziu algumas obras-primas e outras de qualidade duvidável apenas por conter o nome de um figurão em destaque no cartaz – como é o caso de Stallone, que ainda segue arregimentando grandes públicos. Mas, quem for conferir o filme esperando qualidade além da ação furiosa, vai se decepcionar feio.
Nota: ☆
Acho que o Rambo deveria conversar mais, levar flores e ter escrito na sua faixa vermelha a hashtag “Lula Livre”.