Cinquenta Tons Mais Escuros
Por André Roedel
Sucesso de bilheteria e fracasso de crítica. Assim foi Cinquenta Tons de Cinza, adaptação do best-seller de E.L. James em 2015. E Cinquenta Tons Mais Escuros, sua continuação lançada neste mês, parece seguir para o mesmo caminho. Apesar de um pouco melhor que primeiro, o filme se mantém num patamar de qualidade muito baixo – porém deve agradar as ávidas leitoras fãs da sem graça história de “amor” entre Christian Grey (Jamie Dornan) e Anastasia Steele (Dakota Johnson).
Porque, como escrevi na crítica do primeiro filme, a série Cinquenta Tons não trata sobre amor, mas sim sobre dominação e submissão (com boas pitadas de machismo). Na nova produção, Anastasia reata com o sádico Grey, que renegocia os termos do relacionamento regado a sadomasoquismo. Em meio a esse vai e vem sexual (mais intenso e interessante que do filme anterior, ao menos), a trama ainda conta com “conflitos” que ameaçam o casal.
Mas esses “conflitos” são tão facilmente resolvidos e/ou superados que parecem insignificantes ao longo das quase duas horas de projeção. Se eles não acontecessem, simplesmente não fariam falta alguma. Aliás, o propósito desses pequenos desafios que surgem no roteiro assinado por Niall Leonard (marido da própria criadora da franquia literária) são tão inexpressivos quanto as atuações dos protagonistas.
Dakota e Dornan parecem se esforçar para dar uma carga maior ao filme, mas ou são incompetentes demais ou são mal guiados pelo razoável diretor James Foley (da série House of Cards). O resultado é um filme semelhante àquelas produções ruins lançadas diretamente para a televisão, com um quê de novelão mexicano de quinta categoria. Inclusive há uma cena com Kim Basinger (sim, a estrela do já clássico 9 1/2 Semanas de Amor) digna das novelas exibidas pelo SBT no passado.
O filme até tem alguns pontos bons que deveriam ser mais explorados, como a profundidade de Grey. Ele, por conta de seu passado misterioso e traumático, apresenta mais camadas que a indecisa, insossa e insegura Anastasia. Outro ponto interessante – assim como no longa-metragem anterior – é a trilha sonora, novamente assinada por Danny Elfman, com hits de ZAYN, Taylor Swift e Sia.
Mas, também como o primeiro filme (e aqui eu peço desculpas ao leitor por ser repetitivo, mas a produção também se repete), Cinquenta Tons Mais Escuros traz um discurso de glamourização da dominação e superioridade do “macho alfa”, coisa que não deveria ser pregada em tempos em que o feminismo é assunto até em programa da Rede Globo.
Nota: