Craque injustiçado
J.C. Arruda
Você que está lendo estas mal traçadas linhas deve estar em dia com o noticiário do mundo atual e sabe que o assunto do momento é o novo Papa Francisco que, entre os brasileiros, causa grande expectativa por ser argentino. Porém, na esteira das notícias sobre o novo Papa, vem também o anúncio de que, dentro de futuro próximo, acontecerá a canonização do saudoso João Paulo 2° que parece ocorrer em tempo recorde, na comparação com outros processos de canonização que tramitam no Vaticano. Só de Itu, são três: Padre Bento Pacheco, Dom Gabriel Paulino e Madre Teodora Voiron. É interessante que o país com mais católicos no mundo, até hoje só tenha um único santo realmente seu: o Frei Galvão.
No entanto, o falecimento de Joelmir Betting há alguns dias, trouxe a tona a cidade de Tambaú, no interior do Estado, por ser terra natal do ilustre jornalista. Pois, eu posso lhes assegurar que Tambaú já foi muito mais famosa do que é atualmente, no final da década de 50, quando tinha como vigário o Padre Donizetti Tavares de Lima. Na época, também chegava a receber mais romeiros que Aparecida do Norte em razão das graças e “milagres” conseguidos por intercessão do Padre Donizetti. A imprensa do Brasil inteiro e até do exterior faturou muita grana, noticiando os milagres de Tambaú. Era aleijado que voltava a andar, cego que recuperava a visão, mulheres estéreis que ficavam grávidas. Consta que até chuva, o Padre Donizetti conseguiu para o Nordeste durante uma seca da braba. Pois bem, o Padre Donizetti está com seu processo de canonização no Vaticano desde 1996 e acho que não chegará tão cedo a nenhum resultado…
Mas, deixa eu mudar de assunto.
Naquela época eu era ainda rapazola de 16 ou 17 anos e pouco ou nada sabia sobre milagres. O meu maior sonho era ser jogador de futebol. E o auge do meu sonho – não vá rir por favor – era chegar um dia a Seleção Brasileira, o scratch Canarinho. Só que os únicos times que me aceitavam para disputar os campeonatos infantis ou juvenis da cidade, eram os mais fracos, aqueles que, mesmo antes de começar o torneio já eram candidatos à lanterna. E o mais revoltante era que, mesmo nesses times, eu era reserva. Jamais me conformei com essa injustiça. Pelo menos eu achava que era injustiça, que os meus técnicos nada entendiam de futebol. Até que certo dia, eu encontrei uma saída: fui integrar o time da Fazenda Vassoural na qual o administrador era meu tio Roque Camargo e o melhor jogador do time era meu primo Miltom Camargo. Esse primo meu era um craque que chegou a jogar nos melhores times de Itu e região. Ele era o “dono” do time da fazenda.
Ele me acolheu de braços abertos, até porque nunca havia me visto jogar. De cara, me escolheu para jogar no “segundo” que era o time mais fraco, que jogava na preliminar do time principal. Até que não perdi toda a esperança. Achei que, com muito esforço chegaria ao time principal. Fui titular do segundão nos três primeiros jogos aos domingos. Quando chegou no quarto jogo, fui para reserva. No quinto também, no sexto idem e foi por aí em diante. Até que chegou um domingo, antes do jogo, criei coragem e fui falar com o primo Milton. Fui logo esclarecendo: – Milton, você é um dos grandes craques de Itu e eu quero me aprimorar, quero ser também um grande jogador. Tem alguma sugestão, algum conselho que você possa me dar para eu conseguir concretizar meu sonho?
E o Milton, com toda calma e sinceridade me fez apenas uma pergunta:
– Primo Zé! Você já ouviu falar no Padre Donizetti de Tambaú?
Sem comentários!