Delegacia da Polícia Civil revela que próximo passo será ouvir depoimentos

Dr. Nicolau Santarém explica os próximos passos da operação que impactou a população ituana

Ivan Valini

nicolauUm dia após a Operação “Habite-se”, a reportagem do “Periscópio” conversou com exclusividade com o delegado titular da Polícia Civil de Itu e responsável pela ação, Dr. Nicolau Santarém, que revelou como se deu a denúncia, o trabalho de apuração dos fatos e também os procedimentos futuros. Detalhou ainda a abordagem, falou sobre o material apreendido e pediu a colaboração da sociedade.

JP: Como e quando tiveram início as investigações?

Dr. Nicolau: As investigações começaram na primeira quinzena do mês de agosto deste ano. Nós recebemos uma denúncia e conseguimos comprovar um pouco da veracidade das informações e foi deflagrada a investigação.

JP: De quem partiu essa denúncia?

Dr. Nicolau: Isso eu não posso revelar.

JP: Essa denúncia era sobre o que?

Dr. Nicolau: Falava de casos de corrupção, existem casos de corrupção ativa, corrupção passiva, envolve funcionários, quando o funcionário recebe dinheiro, quando o particular entrega alguma quantia ou bem para um funcionário para que ele faça alguma coisa ou quando o funcionário exige dinheiro para fazer alguma coisa, que caracteriza o crime de concussão. A nossa investigação está apurando esses tipos de crimes.

JP: Isso envolve a secretaria de Obras e Serviços Públicos?

Dr. Nicolau: Sim. Isso envolve servidores públicos da Prefeitura, não vou entrar em detalhes de quais secretarias, mas tem um secretário que está sendo investigado e envolvia também particulares que teriam relacionamentos com servidores públicos.

JP: Por que a operação ocorreu na quinta-feira?

Dr. Nicolau: Porque já havíamos feito várias diligências no decorrer desses meses e havia necessidade dessa diligência de busca e apreensão para procurarmos documentos que ajuda a colaborar naquilo que nós já temos.

JP: Além da Prefeitura, quantos imóveis foram vistoriados na quinta-feira?

Dr. Nicolau: Foram quatro residências, três em condomínios, e em dois estabelecimentos os quais eu não irei citar nomes para que não sejam feitas ligações com quem quer que seja. As pessoas investigadas eu ainda prefiro guardar em sigilo para não cometer nenhuma injustiça posteriormente.

JP: A ação de quinta-feira foi exclusiva da Polícia Civil ou houve participação do Ministério Público?

Dr. Nicolau: A ação é da Polícia Civil. A investigação é conduzida pela Polícia Civil, mas o Ministério Público de Itu tem nos apoiado em tudo o que nós estamos precisando. Eles estão cientes de todos os passos dessa investigação e eles têm apoiado e concordado com tudo o que pleiteamos na investigação.

JP: Houve participação do GAECO nessa operação?

Dr. Nicolau: As buscas foram só pela Polícia Civil. Eu nem sei se o GAECO tem conhecimento dessa operação. Só se os promotores da cidade comunicaram o GAECO, mas eu acredito que não. Eles não têm conhecimento e não tiveram nenhuma participação.

JP: Como explicar o fato de uma investigação de três meses que terminou sem nenhuma prisão?

Dr. Nicolau: Veja bem, para a prisão de uma pessoa tem que estar demonstrado certos requisitos. A materialidade do crime tem que estar devidamente comprovada e que essa pessoa possa oferecer algum risco ou atrapalhar a investigação. Por enquanto, não tem nada disso. Nós estamos preocupados em demonstrar cabalmente a materialidade dos delitos, depois vamos reivindicar a necessidade de prisões.

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JP: Qual foi o conteúdo dos objetos apreendidos?

Dr. Nicolau: Acima de tudo foram documentos, computadores, objetos eletrônicos, celulares e uma certa quantia em dinheiro.

JP: Esse dinheiro foi comprovado a origem?

Dr. Nicolau: Não. Também não tivemos nem tempo ainda para chamar essa pessoa que teve o dinheiro apreendido para saber se tem a comprovação da origem. Nós estamos ainda em uma situação muito tumultuada, vamos ficar muito tempo para analisar os documentos apreendidos

JP: Alguém ofereceu resistência durante a operação?

Dr. Nicolau:  Não. Nem havia como porque nós estávamos com um efetivo policial razoável e mais que suficiente para impedir qualquer tipo de reação.

JP: Alguma pessoa chegou a prestar depoimento na delegacia?

Dr. Nicolau: Existe uma pessoa que compareceu espontaneamente para prestar o seu esclarecimento a respeito dos fatos. Uma única pessoa. Ninguém foi trazido para delegacia para ser ouvido.

JP: Quais são os próximos passos dessa investigação?

Dr. Nicolau: Será o chamamento de pessoas. Temos várias pessoas que precisamos ouvir, para esclarecerem coisas que nós sabemos e temos conhecimento.

JP: E para isso, o senhor irá precisar de quanto tempo?

Dr. Nicolau: Não dá para se prever quanto tempo, infelizmente eu estou sozinho como delegado dessa investigação e a Polícia Civil ainda tem poucos recursos humanos para fazermos um trabalho rápido que seria necessário.

JP: O fato de estarmos próximo do Natal e final de ano, atrapalha nas investigações?

Dr. Nicolau: Não atrapalha, mas todo funcionário tem direito a férias. Eu mesmo já tinha férias agendadas e tudo isso pode retardar um pouco a investigação.

JP: Houve alguma ligação política com esse caso?

Dr. Nicolau: O processo investigativo não tem qualquer interferência ou ajuda de setores políticos da cidade de Itu. Aliás, estamos fora da política completamente. Nosso interesse é investigar a ocorrência de crimes e apontar os responsáveis para que eles sejam punidos.

JP: De que forma a sociedade pode colaborar com as investigações?

Dr. Nicolau: A Polícia Civil está dando a sua contribuição para que tenhamos uma sociedade mais justa e sem problemas, para que tenhamos a nossa cidade e nosso país melhor. Eu espero, como cidadão e delegado de polícia, que cada munícipe também faça a sua parte e passe a fazer denúncias de irregularidades que ele tenha conhecimento. Porque é muito difícil você comprovar alguma coisa, todo mundo comenta, mas ninguém denuncia. Pedimos que procurem a delegacia de polícia, podemos fazer uma oitiva sem identificar o denunciante, mas nós temos que ter informações. Não adianta falar que existe corrupção aqui, que tal pessoa é corrupta, nós temos que comprovar isso. Para iniciar uma investigação é preciso ter uma base, é preciso indicar um fato concreto que possamos iniciar uma investigação.