Desculpe o Transtorno
Por André Roedel
Devo começar esse texto informando que não sou muito fã do cinema nacional. É claro que o investimento na sétima arte daqui está longe do de grandes pólos como Hollywood, mas as produções brasileiras deixam muito a desejar. Talvez um dos principais problemas seja a falta de diversidade de temas. Nossos filmes costumam tratar sempre de problemas sociais – quando não se entregam à comédia pastelão. Por isso achei interessante a premissa de Desculpe o Transtorno, que foge um pouco desse caminho.
Dirigido por Tomás Portella (Operações Especiais), o filme começa mostrando o cotidiano do típico paulistano Eduardo (Gregório Duvivier), filho de pais separados que, por conta de um trauma inesperado, desperta uma nova personalidade: Duca, seu apelido de infância quando morava no Rio de Janeiro. As personas apresentam uma forte dicotomia, que serve como base para a trama do longa-metragem.
Com essa nova personalidade, o protagonista acaba conhecendo a jovem Bárbara (Clarice Falcão) e se apaixonando por ela. Não haveria problema algum caso Eduardo – e não Duca – não estivesse noivo de Vivi (Dani Calabresa) e prestes a se tornar sócio do pai (Marcos Caruso) em sua empresa de registro de patentes.
Como apontei, a premissa é bem interessante. Traz um distúrbio psicológico no contexto de uma comédia romântica, com três dos maiores nomes do novo humor nacional. Nada de muito original – filmes como Como Se Fosse a Primeira Vez já fizeram coisa parecida, de forma até mais competente –, mas diferente do que se costuma fazer por aqui. E com a atuação decente de Duvivier, que pontua bem as características contrastantes das personalidades.
Porém o filme não consegue encantar o espectador como provavelmente esperava. Muitas piadas não funcionam, algumas atuações são tão exageradas que se tornam caricatas demais (alô, Calabresa!) e, talvez o mais problemático, só serve para estereotipar ainda mais essa rixa histórica e desnecessária entre São Paulo e Rio de Janeiro. A personalidade paulistana do protagonista é toda introvertida e certinha, enquanto o lado carioca é divertido, espontâneo. Qual a necessidade disso?
No geral, Desculpe o Transtorno não pode ser considerado um filme ruim. Ele tem seus pontos positivos, divertindo o público que vai ao cinema para uma despretensiosa sessão. Mas teve uma ideia mal executada. Se repensada, talvez resultaria em um grande filme. Mais do que isso: resultaria em um filme digno do amor da vida real dos já separados Gregório e Clarice, relatado recentemente por ele em sua coluna na “Folha de S. Paulo”.