Dia dos Povos Indígenas movimenta Itu

Awapeiteinju e outros indígenas da aldeia localizada em Itu, que se apresentaram no Dia dos Povos Indígenas (Foto: Moura Nápoli)

Em 19 de abril comemorou-se o Dia do Índio, agora Dia dos Povos Indígenas. A data refere-se a um evento realizado no México, em Pátzcuaro, reunindo em 1940, autoridades de quase todos os países das Américas, com intuito de dar maior atenção ao povo indígena. Foi o 1º Congresso Indigentista Interamericano. No Brasil, o presidente era Getúlio Vargas e vivia-se no país o governo Estado Novo.

A cultura indígena é a raiz da construção da identidade brasileira. Nos dias atuais os povos indígenas espalham-se por todo o território brasileiro, sendo que o país conta com mais de sete mil localidades indígenas, segundo estimativa do IBGE de 2019, espalhados por 827 municípios, inclusive Itu.

O Periscópio manteve contato com um grupo indígena de Itu, Tupis-Guaranis que estiveram participando e mostrando sua cultura para alunos do 5º ano da EMEF “Marilze Calil”, na tarde da quarta-feira (19) no Cila – Centro Ituano de Letras e Artes, sendo recebidos pela secretária de Cultura Sabrina Souli.

Como o Cacique Awatu (Valdir Rocha Marcolino, em português) não pode comparecer, a reportagem falou com um dos representantes da reserva, Awapeiteinju (que quer dizer Filho Único e em português é Romildo Marcolino).

Ele disse que “hoje estamos na reserva [localizada próximo à divisa de Itu com Mairinque] em seis famílias, cerca de 30 a 40 pessoas. O Cacique é o líder nosso, exercendo uma função como um prefeito e delegado. Ele é quem cuida dos projetos, todos os nossos trabalhos e também determina as punições, quando fazemos coisas erradas”.

Apesar de trabalhar para manter as tradições indígenas, os índios convivem – e nem poderia ser diferente – com a modernidade. “Dentro da atualidade, a gente procura manter nossa cultura, o que não é fácil, mas não deixa de estar ao lado de coisas como celulares, computadores”, revelou, dizendo inclusive que sua filha faz faculdade.

“Na reserva indígena, para dar continuidade à tradição na parte linguística, há uma escola, que nós chamamos de Escola Diferenciada, onde nossas crianças e adolescentes aprendem português, mas também a nossa própria língua, além de ensinar os artesanatos, isso para não morrer a tradição. Nós temos que usufruir, sim, da modernidade, porque precisa, mas temos de preservar nossas tradições, nossa cultura, que é o nosso bem maior”.

O indígena admite que seu povo, que já está há mais de 16 anos na cidade, “já perdeu muito na parte de alimentação, do dia a dia, mas eu falo pro meu povo que o conforto da cidade é meio que falso. Nós, da nossa maneira, temos tudo que precisamos. Produzimos nossa alimentação, fazemos nossos artesanatos, temos nossas ervas medicinais”.

O grupo também sobrevive do turismo, apresentando-se em locais como na Fazenda do Chocolate, por exemplo, onde mostram seus trabalhos para os turistas, numa forma de obter dinheiro e também, divulgar sua cultura, com apresentações, palestras, etc.

Preconceito – Os indígenas ainda – e infelizmente – sofrem com preconceitos. “A gente tenta passar para as pessoas para que se conscientizem em vários sentidos. Eu procuro passar nas minhas palestras, que as pessoas precisam primeiro conhecer para depois chegar a uma conclusão. Nós, indígenas, praticamente toda hora vemos essa diferença. As pessoas pensam que temos que viver na mata, não podemos sair na cidade. Eu estou à caráter hoje [para a apresentação aos alunos], mas se eu sair assim na rua, as pessoas vão ver de forma diferente”, atestou.

Awapeiteinju disse que recentemente estava em trânsito entre uma palestra e outra e dirigia seu carro de rosto pintado “e as pessoas falavam ‘olha lá, um índio dirigindo’. Estamos em 2023, as coisas mudam. Hoje temos celular, temos computador, mas as pessoas acham que temos de ter arco e flechas. Não é mais assim”, desabafou.

Finalmente, uma frase que impacta e faz pensar: “as pessoas acham que nós só vivemos de caça e pesca, mas não entendem que foi a própria sociedade que nos tirou de onde vivíamos. Nós não fomos convidados, nos foi praticamente imposta uma outra cultura. Por isso, tivemos de nos adaptar, mas não deixamos morrer nunca as nossas tradições”.