Divórcio
Por André Roedel
Tenho gostado da última safra de filmes nacionais. Parece que os cineastas brasileiros passaram a entender que é preciso ter produções mais despojadas, divertidas e populares, mas com capricho e o mínimo de charme. Tal qual muitas obras americanas, que sempre garantem bom público. Prova recente foi o ótimo Bingo: O Rei das Manhãs, que vai brigar por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Divórcio, novo filme dirigido por Pedro Amorim, não chega aos pés deste citado, mas tem grandes qualidades e consegue algo essencial: divertir o espectador. Apesar dos inúmeros clichês e da história manjada, há uma ótima química entre Murilo Benício e Camila Morgado, que interpretam o casal Julio e Noemi, que enriquecem após criar uma marca de molho de tomate em Ribeirão Preto.
Só o palco, que foge do eixo Rio-São Paulo, já torna o longa-metragem interessante. Sentir aquele clima de interior, que muito se assemelha com o de nossa cidade, faz a história ser mais próxima da gente – e isso é muito legal. Mas Divórcio ainda consegue fazer uma crítica velada aos “novos ricos” e também a esse mundo do sertanejo universitário.
Na trama, após anos de um casamento bem-sucedido, Noemi resolve pedir o divórcio de Julio, o que resulta em momentos cômicos. O filme é embalado pelo clássico musical “Evidências”, hit de Chitãozinho & Xororó, dessa vez cantado por Paula Fernandes. Aliás, a letra da música muitas vezes reflete as ações do casal na telona.
Das coisas que não gostei, além das saídas fáceis de roteiro e de algumas atuações secundárias bem ridículas, uma delas foi Murilo Benício fazer praticamente o mesmo personagem da novela “Pé na Jaca”, exibida pela Rede Globo entre 2006 e 2007. Naquela produção, ele interpretava Arthur e o cenário era Piracicaba – outra cidade do interior paulista. Muitas semelhanças que demonstram que o ator não consegue ir além disso.
Mas Divórcio funciona, e eu ainda não sei bem o que faz ele funcionar. Ele serve perfeitamente como uma distração para um fim de noite. Tem também ótimos acertos técnicos, como nas cenas com mais ação – existem algumas perseguições em plantações muito bem elaboradas. Os efeitos especiais também chamam a atenção, mostrando que o cinema brasileiro vai evoluindo nesse quesito.
No geral, Divórcio cumpre seu papel de comédia sem apelar para piadas bestas, mas abusa de alguns clichês desnecessários. Vale o ingresso se você souber ignorá-los.
Nota:
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