Dois Filhos de Minas
J.C. Arruda
Os dois meninos cresceram juntos, ná Fazenda Coqueiral. Embora sendo de famílias diferentes, ambos vieram de Minas para Itu. A Coqueiral tinha nessa época 15 casas para abrigar seus colonos e as famílias. Chicão e Quinzinho vieram com seus pais para se somar as outras mais antigas no local. O patrão tinha decidido deixar de lado as roças de café e passara para a pecuária que estava rendendo mais no mercado econômico. E as famílias dos dois garotos eram especialistas no ramo, há muitos anos nas Minas Gerais, na região de Uberaba.
Começava ali a relação de amizade entre os meninos Francisco e Joaquim que começaram a trabalhar logo cedo, mal chegados aos 15 ou 16 anos. Ambos, trabalhavam juntos, eram companheiros inseparáveis na pescaria, nas missas de domingo e mesmo no futebol, quando o Coqueiral enfrentava os times de outras fazendas vizinhas. Com a mudança no ramo de negócios, a situação melhorou muito e em poucos anos passou a chamar a atenção de olhos cobiçosos. Foi aí que a fazenda vizinha, adquirida por novos donos, deixou de se chamar Boa Vista para transformar-se na Estância Rei do Gado.
Nasceu a rivalidade entre as duas propriedades.
Chicão e Quinzinho também tinham suas rivalidades, coisa comum entre os jovens. Antes, em Minas, Chicão torcia para o Cruzeiro e Quinzinho para o Atlético. Agora, em Itu, Chicão se tornou Palmeirense fanático e Quinzinho, corinthiano roxo. O tempo passou e ambos se tornaram homens, adultos, competentes na lida. Até que chegou o dia em que Chicão foi chamado para casa sede da propriedade e de lá saiu como novo administrador da Fazenda Coqueiral. Com apenas 26 anos, administrador de fazenda!
Quinzinho foi um dos abraçaram o novo chefe dando-lhe os parabéns, mas guardando dentro do coração a frustração de não ter sido ele o eleito para o cargo. Mas, o destino tem seus segredos. Foi nesse momento que outra família veio para a Coqueiral e junto veio Tereza, a filha única do casal. O ambiente ferveu na fazenda. A nova moradora passou a ser o foco de todos habitantes do local, porque além de linda, era educada, gentil, “trabalhadeira” etc. etc.
Imediatamente passou a ser cortejada por todos rapazes solteiros da fazenda. Inclusive por Chicão e Quinzinho.
Para a surpresa geral, ela optou pelo simples Quinzinho, deixando frustrado o futuroso Chicão, e não parou por aí. Não só escolheu Quinzinho como casou-se em seguida com ele na capela, tendo como padrinho, o próprio Chicão. Não houve grande festa, nem lua-de-mel, porque ambos eram pobres. Porém, pouco tempo depois veio a surpresa: a Estância Rei do Gado chamou Quinzinho para ser seu administrador. Como Chicão havia feito antes, também Quinzinho topou a parada. E mais, mudou-se para a Rei do Gado e levou junto obviamente a disputada Tereza, como esposa.
A partir de então, Chicão vivia saudoso dos compadres e por qualquer motivo inventava uma desculpa para ir visitá-los. Foi quando a Estância Rei do Gado, adquiriu em leilão, o touro Furacão e marcou um grande gol na região, passando a alugar esse campeão para cruzar com as vacas da redondeza. A Coqueiral não podia ficar atrás. Chicão escolheu a melhor vaca da fazenda para seduzir o Furacão. No dia acertado, Chicão levou a vaca “Rainha” para o namoro e possível casamento na Estância administrada por Quinzinho. Chegando lá o amigo não estava. Tinha ido até a cidade comprar sementes na Cooperativa Agrícola, mas Tereza se prontificou em fazer as honras da casa. Foi com Chicão levar a Rainha para o Furacão. Não deu outra: o Furacão veio e crau! Subiu na Rainha e alí ficou mandando brasa, sob os olhos de Chicão e Tereza, ambos pendurados na cerca. A cena, acho que fez Chicão perder a cabeça. Virou-se para Tereza e desabafou maliciosamente:
– Olha comadre, faz tempo que eu ando doidinho para fazer aquilo que seu touro está fazendo com a minha vaca!
E a Tereza, bem rápido:
– Então vai lá cumpadre! A vaca é da sua fazenda, mesmo!