Editorial: A indignação da Tocha Olímpica

Na manhã da última quinta-feira (21), a cidade de Itu recebeu o revezamento da Tocha Olímpica dos Jogos do Rio 2016. A passagem do símbolo Olímpico por si só é marcante, ainda mais se pensarmos que milhões de municípios no mundo sequer tiveram esta oportunidade.

A população vibrou, se emocionou e vivenciou o momento histórico fazendo “selfies” descompromissadas com o intuito de “apenas” se divertir. Para eles, o evento foi uma grande festa. Porém, para a imprensa, não foi bem assim.

Os obstáculos enfrentados pela imprensa, que sempre busca cobrir fielmente o evento em que se encontra, foram inúmeros. O “Periscópio” passou meses e meses tentando descobrir quem seriam os 29 condutores, mas ninguém sabia informar (ou ao menos se negaram). Oras, se a intenção era divulgar o evento, a maneira como fizeram foi totalmente errada.

Ou alguém consegue entender qual a vantagem de saber que é um condutor e não poder falar? Aliás, na véspera da passagem da tocha, dos 29 nomes, três não haviam sido revelados…

Com relação ao percurso que a tocha faria na cidade, a mesma coisa. Ninguém podia falar nada. Era “segredo”.

Afinal, imaginamos que devido à grandeza do evento, algum problema gravíssimo poderia ocorrer, como o desabamento de uma rua, ou a inundação de algum espaço. Enfim, para se guardar a sete chaves o nome das ruas, é porque algo “mágico” estava reservado.

O que a mídia ituana vivenciou na manhã da última quinta-feira foi um descaso. Sim, esta é a palavra que melhor qualifica o ocorrido. Ao receber um evento de grande porte como este, o mínimo que se esperava era que a imprensa local teria condições de exercer seu trabalho.

Mas o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), assim como os patrocinadores do evento, impediram que os jornalistas, que precisaram se credenciar antecipadamente (não sabemos por que, afinal o que diferenciou os jornalistas do povo em geral foram as credenciais no pescoço, pois o espaço era o mesmo), trabalhassem. Não, realmente não havia um espaço para jornalistas e a imprensa. Se quisesse cobrir o trajeto, teria de se “acotovelar” com a multidão que se encontrava eufórica atrás do isolamento promovido para a passagem do comboio.

Fim dos problemas? Ainda não. Quando a Tocha chegou ao Estádio Novelli Júnior, os jornalistas, ao tentarem promover o registro do acontecimento, foram empurrados ou agredidos pela segurança, promovida pela Força Nacional, sendo praticamente impedidos de registrar a história.

Isso sem falar a falta de comunicação da organização, que em nenhum momento se dispôs a mencionar os locais que os condutores estariam para dar entrevistas ou se poderiam conceder entrevistas.

Felizmente, alguns dos condutores conversaram com a imprensa após o evento, porque houve “falha” da organização, já que enquanto havia “segurança”, a imprensa mal podia fotografar.

Resumindo: se pela televisão ou in loco você achou tudo “um mar de rosas” é porque você viu o evento e não participou do evento.