Ein Prosit! (*saúde! em alemão)

As cervejas artesanais estão ganhando cada vez mais espaço e apreciadores. Entenda o porquê

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ANA LUÍSA TOMBA

A milenar bebida alcoólica feita tradicionalmente com cevada tornou-se a queridinha para os brasileiros, que conseguiram adaptá-la muito bem à gastronomia tropical do país, afinal, como organizar um churrasco com os amigos sem a famosa “gelada”?

Apesar de ser negativamente carregada com sentidos sexistas e machistas, a cerveja e toda a cultura que a envolve são mais ricas do que as propagandas que fortalecem a cultura do estupro e a objetificação da mulher. Historicamente, os homens sempre foram o público alvo da cerveja; no entanto, é óbvio que o cenário mudou, e a bebida também cativou as mulheres. No entanto, a publicidade ainda não acompanhou completamente essa mudança.

Novas tendências
Com esse novo público conquistado – e tantos outros – a demanda, consequentemente, aumenta. Em busca de novos sabores e até mesmo com a “gourmetização” de tantos outros produtos, surgiram as microcervejarias – que são as produções de cervejas artesanais, mais elaboradas que as populares vendidas em varejo e com um número menor de fabricação.

O engenheiro agrícola ituano Angelo Betiol Neto planeja transformar o que começou como um hobby em um negócio de fato. “Foi aprovada pelo governo federal uma lei que favorece as microcervejarias. Assim, o produto vai se tornar mais competitivo no mercado, dando espaço e crescimento para muitas marcas novas”, comenta. Neto produz cervejas artesanais e percebeu que, seguindo um processo de fabricação, conseguiu produzir ótimas bebidas. “Se começa pela moagem do malte; também podem ser utilizados outros tipos de grãos, como trigo, aveia, milho e arroz. Depois da moagem dos grãos, ocorre a infusão do malte em temperaturas determinadas para a extração do amido e transformação deste em açúcar fermentável. É como se fizesse um chá de malte e esse ‘chá’ se chamasse mosto. Após essa infusão do malte, vem a filtragem e lavagem dos grãos. Depois da lavagem e filtragem, é a etapa da fervura, na qual são adicionados os lúpulos, que vão dar o amargor, sabor e aromas pra cerveja. Na fervura também podem ser adicionados outros tipos de condimentos pra dar sabor e aroma. Depois da fervura, o mosto é resfriado e adiciona-se o fermento, para a transformação do açúcar em álcool e CO2. Após a fermentação ocorre a maturação, onde os sabores e aromas se arredondam para o produto final. E a última etapa é o envase, que pode ser em garrafa ou em barril”, explica Neto.

Lua Livian Varin, da loja “Arte da Cerveja”, acredita “que as pessoas mudaram a maneira de beber. O que importa não é a quantidade, e sim a qualidade. Então passaram a degustar a cerveja e a harmonizar com pratos. Já que o brasileiro não tem a preferência por vinhos para harmonizar, a cerveja foi uma boa pedida. As microcervejarias também estão ganhando mercado, dando um toque especial para cada região”.

Neto analisa que, aqui no Brasil, existem cerca de 400 microcervejarias; nos Estados Unidos, por exemplo, esse número já chegou a 3 mil. Por isso, ainda há espaço para esse novo empreendimento no mercado. “Acontece que aqui a carga tributária para cerveja artesanal é muito alta, por isso o mercado é um pouco restrito. Com preço competitivo, tem espaço para todas as cervejas e cervejarias! Se o produto é bom, tem espaço com certeza!”, completa.

Gostinho brasileiro
Não é novidade nenhuma que o Brasil tem uma diversidade imensa em sabores naturais de frutas e temperos. Aproveitando a oportunidade, Neto se inspira justamente nos sabores típicos para a produção. “O Brasil tem muita fruta típica, com sabores que só existem aqui, e as cervejarias estão explorando e dando uma cara brasileira para elas. Eu gosto bastante de fabricar witbier (cerveja de trigo com casca de laranja e especiarias), ipa, pilsen, rauchbier (cerveja defumada)”, explica.

Na “Arte da Cerveja”, segundo Lua, a cerveja que mais é vendida é a Devassa Puro Malte. “Ela é menos amarga e tem um paladar que atrai mais os clientes. Já na linha das especiais, a liderança é por conta da Eisenbahn Pilsen e a Weizenbier. A Baden mais vendida ultimamente é a 5 grãos e a Witbier”, explica a empresária.

Oktoberfest
Lua também comenta sobre o fluxo de vendas só neste mês. “Este ano, outubro teve um aumento muito significativo no consumo de chopp e cerveja, por ser o mês da Oktoberfest”, explica.

A tradição do Oktoberfest começou em 1610 em Munique, na Alemanha. Entre vários contratempos, deixou de acontecer algumas vezes; no entanto, de 1945 até hoje, aconteceu ininterruptamente. Hoje, a Oktoberfest de Munique recebe anualmente um público de quase 10 milhões de pessoas. O consumo de cerveja chega a 7 milhões de litros.
No Brasil, a festa virou tradição na década de 80, e é realizada em Blumenau (SC), em todo o mês de outubro. Durante 19 dias de festa, os blumenauenses mostram a preservação da cultura tipicamente alemã. Além de danças, músicas e da gastronomia, a Oktoberfest é conhecida pelo consumo de cerveja. Neste ano, o festival começou no último dia 5 e acaba amanhã (23).