Elias Álvares Lobo, por Luís Roberto de Francisco
Quando eu era jovem, em uma aula de piano, a professora me falou do maestro Elias Lobo, disse das obras que ele escreveu e as homenagens que a cidade fizera ao conhecido compositor. Perguntei então sobre as músicas dele, se eram bonitas. Ela pensou um pouco e respondeu que nunca ouvira nem uma delas! O homem era um gigante na memória paulista, mas a obra era desconhecida.
Elias era lembrado como um dos grandes compositores brasileiros, patrono da Cadeira 14 da Academia Brasileira de Música, nome de ruas em Campinas, Itatiba, São Paulo e em Itu, onde a Corporação Musical União dos Artistas emprestou seu nome à sede. Porém a sua composição, carinhosamente guardada em arquivos pessoais e institucionais, era somente um conjunto de raros papéis.
Em 1991 o Coro do Bom Jesus recuperou trechos da obra “Três Horas de Agonia”. Depois o Coral Vozes de Itu assumiu essa tarefa e não parou mais. Em parceria com o Museu da Música foram dezenas de peças transcritas e apresentadas em eventos religiosos, performances e saraus, em São Paulo e Minas Gerais. Assim, música foi voltando à vida.
Elias Álvares Lobo nasceu em Itu a 9 de agosto de 1834. Menino órfão estudou música aproveitando as oportunidades que teve, inclusive aluno de Francisco Manoel da Silva, compositor do Hino Nacional Brasileiro.
Na Corte de D. Pedro II apresentou sua ópera “A Noite de São João”, escrita sobre um singelo libreto de José de Alencar. Essa parceria se tornou um marco na história do Brasil: foi a primeira ópera genuinamente brasileira, com texto e música de nativos, melodrama de temática regional em língua portuguesa. Na ópera Elias Lobo já imprimiu à música as cores de brasilidade que permaneceram em tudo o que deixou. A linguagem simples, sempre adequada ao texto, para as músicas da Igreja ou de salão, foi uma marca cativante e sempre apreciada seja para as missas, novenas, oratórias ou para romances, modinhas e lundus.
Boa parte dos originais deste acervo precioso conserva-se no Museu da Música – Itu, criado pelo Instituto Cultural de Itu e mantido por um grupo de cidadãos.
Ao estudar a sua vida encontramos a trajetória de um homem notável, sonhador, que lutou para manter numerosa família; um cidadão de grandes ideais, líder cultural e mestre de gente como Chiquinha Gonzaga, no Rio de Janeiro, e Tristão Mariano da Costa em Itu.
Por tudo isso, o dia 9 de agosto não pode passar indiferente. É o Dia Maestro Elias Lobo e mesmo no silêncio dessa pandemia precisamos aplaudir a beleza da arte que ele nos deixou.