Em dia de chuva

Chove a tarde toda. Renato senta-se perto da janela da sala. Impaciente, olha para fora. Não chove o suficiente para formar uma enxurrada na calçada, e ele aguarda ansioso que a chuva aperte. Após algum tempo de espera, as gotas de chuva começaram a engrossar e a enxurrada começa a se formar na calçada.

Conforme vai aumentando a correnteza, a água vai arrastando algumas sujeiras que estavam na rua: um pedaço de papel, alguns galhos de árvore, as pétalas das flores do ipê em frente à casa de Renato.

Em um determinado momento, passa por Renato uma grande folha seca. A folha boiava na enxurrada, como que bailando com a correnteza, com velocidade, mas ao mesmo tempo com delicadeza. Logo que viu a grande folha, Renato imaginou-a como um barco. Um grande barco seguindo o movimento de um largo, caudaloso e vivo rio.

O barco-folha poderia estar transportando turistas em uma viagem de aventura. Desviava de pequenas pedras e também de outros obstáculos não tão pequenos com grande destreza. O que pensaria cada um daqueles passageiros? Seria essa sua primeira corredeira de aventura? Algum deles teria medo do destino final da viagem? Ou nenhum deles conhecia a finalização possível daquele trajeto: a boca de lobo no final do quarteirão?

Talvez nenhum deles se preocupasse com o final. O trajeto, emocionante, parecia deslumbrar. Será que os outros barcos-folhas se reconheciam ao longo do trajeto? Pertenceriam ao mesmo galho? Será que conversavam? Saberiam todos que navegam em direção ao desconhecido? Perdido nas folhas de seus pensamentos, Renato fecha as cortinas da sala e volta para a cozinha. Talvez vovó já tenha fritado os bolinhos de chuva.

 

Denise Lícia Boni de Oliveira

Cadeira nº 3

Patrono: Francisco Nardy Filho