Entrevista: A luta pela liberdade no amor

Por Cristina Simionato

Afonso Torres (à esquerda), juntamente com o noivo Paollo Netto (Foto: Divulgação)

Afonso Torres, de 27 anos, tem uma história de luta e opressão, apenas pelo fato de ser homossexual. Mas, apesar de tudo, hoje pode contar com uma pessoa que ama e está disposta a viver ao seu lado para sempre, Paollo Netto. Uma história de respeito e amor. Confira a entrevista.

JC: Conte  um pouco da sua história de vida. Principalmente, quando você se assumiu homossexual perante a sociedade.

Eu nunca me “assumi”, na realidade meio que me tiraram do “armário”, e nesse sentido passei por muita coisa. Nossas famílias nunca estão prontas para esse diálogo, podemos ter avançado um pouco, mas ainda é um grande tabu. No fundo, essa coisa de ter que se assumir é uma grande ilusão, não precisamos assumir nada, apenas ser!

JC: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou quando começou a se relacionar com o seu parceiro?

Nunca nos importamos em como seria para a sociedade nos aceitar, apenas vivemos nossa vida. É inevitável perceber alguns olhares ou até mesmo estranhamento quando percebem que somos um casal, mas não devemos nada a ninguém. E se caso algum dia passarmos por algum caso de homofobia (coisa que graças a Deus não aconteceu), seremos fortes o suficiente para confrontar, porque respeitamos todos para que possamos ser respeitados também.

JC: Seus familiares e as pessoas ao seu redor aceitaram desde o início o seu relacionamento?

Alguns aceitaram muito bem, ficamos até surpresos. Já outros tiveram uma certa resistência, mas depois perceberam que não passava de puro preconceito, um preconceito que nem deles era, e sim de uma sociedade culturalmente homofóbica como a nossa. Nunca abaixamos a cabeça para isso e nunca iremos.

JC: A decisão de dar um novo passo ao relacionamento [o noivado], foi fácil perante a sociedade atual?

Sendo bem sincero, nós noivamos depois de 5 anos de relacionamento, então meio que todos já estavam esperando por isso. Não recebemos nenhum tipo de rejeição. Claro que esse é o meu ponto de vista perante a sociedade que me rodeia, se formos colocar essa questão em um âmbito nacional, com certeza a resposta seria diferente, volto a dizer que a sociedade não está pronta para esse diálogo, mas ele precisa acontecer mesmo assim.

JC: Como você enxerga o Projeto de Lei 580/07, que visa proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo?

Essas pessoas não têm o que fazer! Esse projeto é 100% baseado em princípios religiosos. Política é,e precisa ser de cunho laico, assim como o país, afinal isso está na constituição. É absurdo querer nos tirar esse direito que foi conquistado com muito suor.

JC: Você teme que isso possa afetar o futuro com o seu parceiro? Qual fim acha que todas essas discussões podem levar?

Com certeza é uma preocupação, temos o desejo de casar um dia, é um direito nosso e isso tem que ser respeitado. Se você é contra, é só não se casar ou não ir ao casamento (caso seja chamado). Eu acredito que essa discussão não seguirá adiante, porque é como a deputada Erika Hilton, que tem feito um ótimo trabalho em nossa defesa disse: “Não nos deixaremos abalar, vamos lutar até o fim”.

Existe uma infinidade de coisa mais importantes para serem discutidas, tantas pessoas em situação de vulnerabilidade, mas com isso nenhum deles se importa. Essas pessoas precisam parar com essa obsessão, nos deixem em paz!