Escolas fazem ações de conscientização aos jovens que votarão pela 1ª vez
Embora não seja obrigatório, jovens entre 16 e 17 anos podem votar. Em todo o país, o número de jovens dessa faixa etária que fizeram o cadastro eleitoral e estão aptos a votar nas eleições municipais de outubro saltou 78% em comparação com o pleito municipal anterior, de 2020. Agora, há 1.836.081 eleitores nessa faixa etária, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), sendo que nas eleições de 2020, haviam 1.030.563 eleitores adolescentes.
No Brasil, o voto só é obrigatório somente entre os 18 e os 70 anos, conforme a Constituição. O crescimento dessa faixa etária superou em muito o do eleitorado em geral, que subiu 5,4% de um pleito municipal a outro.
Com isso, eles agora chegam a 1,17% de todo o eleitorado brasileiro, que soma mais de 155,9 milhões de votantes. A faixa etária com maior eleitorado é a de 45 a 59 anos, que soma 38.883.736 eleitores. Em Itu, são 116 eleitores registrados com 16 anos e 312 com 17, entre o total de 130.162 eleitores aptos.
Diante desse cenário, o Periscópio conversou esta semana com educadores das redes pública e privada a respeito do trabalho de conscientização desenvolvido nas escolas, com os estudantes que votarão pela primeira vez. A reportagem falou também com quatro estudantes que terão o primeiro voto no dia 6 de outubro.
Diretor do Colégio Anglo Itu, Fábio Augusto de Oliveira e Silva explica o trabalho desenvolvido com os jovens na instituição. “Temos um trabalho institucionalizado aqui na escola que visa explicar como funcionam as eleições como um todo. Fazemos a simulação de uma votação com eles, com os candidatos reais, e a gente divulga os ganhadores”, explica.
“Em anos anteriores, fizemos a simulação entre os alunos, que se candidataram para vereador e prefeito. Dentro desse contexto, aproveitamos para explicar para eles como funcionam o Legislativo, o Executivo, a função da política como um todo”, prossegue Fábio.
Ainda segundo o diretor, os alunos visitaram, no ano passado, o gabinete do prefeito Guilherme Gazzola (PP). “Temos uma atividade onde os alunos propõem mudanças ou intervenções na cidade para o próprio prefeito. Os alunos fazem uma entrevista com o prefeito e é bem legal, pois eles veem na prática como aquilo funciona”.
Fábio faz questão de deixar claro que o colégio evita qualquer tipo de ordem político-partidária. “O nosso objetivo é dar voz ao aluno para que ele consiga, dentro de seu discernimento, ter ferramentas para decidir qual o melhor caminho para o voto dele”.
“Procuramos orientá-los nas aulas diárias, principalmente na área de humanas que são as disciplinas que trabalham mais com esse aspecto, no sentido de ir nesse caminho, de falar para que eles pesquisem, busquem informações, conversem com o vereador mais próximo, que eles tenham acesso para escolher o melhor candidato dentro daquilo que têm disponibilidade. O trabalho permeia desde os menores até o Ensino Médio e o pré-vestibular”, destaca.
Coordenadora dos Ensinos Infantil, Fundamental I e Médio do Colégio Anglo Itu, Rosane Maria Fruet de Moraes complementa. “Temos até uma disciplina que envolve muito também a família no processo. No Ensino Médio, principalmente, temos um cuidado grande para que os professores não exponham sua opinião e sim apresentem todo o contexto da situação. Trabalhamos muito isso”.
Ainda de acordo com Rosane, por meio do trabalho voltado para as redações, os alunos despertam um maior interesse por política. “Como vamos falar do meio ambiente, com tudo o que está acontecendo com a seca, as queimadas, sem tratar diretamente como os governantes estão agindo em relação? Não tem como ficar alienado e isso faz com que eles fiquem voltados ao momento político em que nós vivemos”, reforça a coordenadora.
Primeiro voto
Aluna do 3° ano do Ensino Médio do Anglo, Júlia Siqueira Florentin, de 17 anos, votará pela primeira vez em outubro. “Eu não era tão engajada na questão das eleições municipais. Grande parte dos jovens não é, mas por questão de influência da minha família para eu pesquisar para saber quem realmente eu poderia votar, para me identificar, estou bem mais engajada”.
Sobre o que espera para a cidade a partir de 2025, a jovem espera melhoria em pelo menos duas questões. “Principalmente a questão da água, que obviamente afeta todo mundo, e a questão de saúde pública. Querendo ou não, é uma dificuldade que todo mundo enfrenta aqui em Itu”.
Também estudante do 3° ano do Ensino Médio do Anglo, Pedro Evangelista da Silva, de 17 anos, fala da importância da conscientização. “Eu acho que o colégio e a educação têm um papel muito importante no meu voto, porque quando você tem uma base estrutural forte de conhecimento da sociedade, você consegue ter um voto mais consciente”.
Segundo o aluno, o eleitor não pode acreditar em soluções “mirabolantes” para os problemas da cidade. Ele também dá sua opinião sobre as pesquisas, dizendo que elas afetam muito as eleições porque há quem vota em quem está na frente nos levantamentos, em quem teria mais chances de ganhar.
“Deveria haver um incentivo entre as pessoas de votar realmente em quem você quer que seja eleito e não em quem você acha que tem chance de ganhar, pois isso abre espaço para muita polarização política em todos os âmbitos, municipal, estadual e federal”, conclui o jovem.
Na Escola Estadual “Professor Pery Guarany Blackman”, o professor André Renato de Oliveira, ao lado do professor Milton Sitta, também promove um trabalho de conscientização junto aos estudantes com relação ao voto.
Ao JP, André Renato fala a respeito. “O trabalho que fazemos é mais de conscientizar. Não temos posição política. Gosto muito de uma frase de um pensador que eu trabalho que é o Immanuel Kant: ‘Não se ensina filosofia, se ensina a filosofar’. Acho isso interessante. Porque você tem que mostrar as possibilidades que existem e os caminhos, então fazemos um trabalho nesse sentido. Existe o lado A, o lado B, o lado C, o lado D e desenvolver o senso crítico para que eles possam seguir o caminho que fizer mais sentido pra eles”.
Segundo o professor, é importante mostrar que existem pontos de vista diferentes, discutir situações e conscientizar os alunos sobre a importância do voto de se escolher um candidato. “A mão dos jovens tem um peso muito grande quando se fala em decisões que a gente vai tomar enquanto país, enquanto sociedade. Os jovens são muito importantes. Então, o nosso trabalho é mostrar essa importância e muitas vezes falta o conhecimento dessa importância”, reforça o educador.
Estudante do 3° ano do Ensino Médio do “Pery”, Júlia Lima Feitosa, de 18 anos, recorda que esse trabalho começou desde o 1° ano. “Eu acredito que seja muito bom para nós jovens refletirmos sobre isso, porque o voto, querendo ou não, consegue mudar e moldar o nosso futuro e a gente tem que reter muita responsabilidade em quem a gente vai colocar no poder, pois a gente precisa colocar uma pessoa capacitada para poder fazer tudo aquilo que ela falou”, pontua.
Sobre o que espera para Itu, a jovem espera que quem for eleito cumpra com as propostas, “pois existem propostas boas para cidade e eu espero que possam ser responsáveis no que fazem”.
Também estudante da mesma classe, Lucas Eduardo Santos Fernandes, de 18 anos, acredita que a política como um todo é “desvalorizada”. “Todo jovem que está ingressando no Ensino Médio vai ser preparado para passar no vestibular ou qualquer outra prova, entrar no mercado de trabalho, mas não passa por nenhuma dessas questões sobre as ações que acontecem no país e que vão influenciar na vida deles. Não tem esse questionamento”, afirma.
“Os jovens são formados, martelados para serem competitivamente capitalistas até atingir o objetivo deles, não importa o meio, enquanto a política fica desvalorizada. Qualquer jovem está sempre recebendo diversas informações rasas que não agregam num consentimento amplo do país que ele está vivendo e por isso não tem uma noção do que pode ser bom em um objetivo a longo prazo ou a curto prazo”, diz Lucas.
“Se você não tem noção do que é necessário para seu futuro e o futuro da sua nação, você não tem os meios necessários para decidir o que você tem que fazer hoje para se dar bem futuramente ou no dia seguinte”, prossegue.
A respeito de suas expectativas, o estudante analisa. “A minha cidade não é uma das piores do Brasil, mas também não é uma das melhores. Tem muita coisa a melhorar, tem que ser corrigida. A educação, por exemplo, não tem muito debate, vão até retirar um pouco da verba e isso não é bom nem um pouco. Saúde e segurança também deixam a desejar. Itu está daqui para pior”, conclui.