Espaço Acadil | A mais renomada cantora na história de Itu
Talvez o título seja um exagero do historiador, mas ao músico-pesquisador. Nos últimos quarenta anos, tenho pesquisado a produção e reprodução da música em Itu e não conheço mulher cuja atuação como cantora tenha sido mais aplaudida que Maria Augusta da Silva Prado (1855 – 1925). Muitos comentários em jornais ituanos, a partir de 1873, são elogiosos às suas performances. O leitor interessado em conferir a pesquisa, porém deve procurar pelo nome Maria Augusta da Costa, como ficou conhecida após casar-se, em 1872, com Tristão Mariano da Costa, seu professor de música e canto. Maria Augusta era o soprano para quem ele compunha solos de música sacra. Ela também foi a primeira mulher a se apresentar no ambiente religioso católico, merecendo considerações da crítica musical, naquele momento em que abria-se espaço à participação feminina na liturgia, afinal, Elias Lobo e Tristão Mariano foram os pioneiros na inserção da voz feminina na música sacra em Itu. Antes deles, o timbre agudo era executados por meninos, os tiples.
É que a década de 1870 viu o gosto musical mudar, a ópera entrar na música religiosa e provocar um feliz encontro em Itu: a escrita inspiradora de Tristão e o timbre notável de sua esposa.
Como avaliar se Maria Augusta foi realmente notável? Sem gravações, restam-nos os comentários às vezes longos, seja da qualidade de sua voz, seja da performance. Ela deveria não só contar com excelentes agudos, que vemos nas partituras que o Coral Vozes de Itu tem trazido à vida, mas também, no volume, afinal eram quarenta músicos na orquestra “contra” seis ou sete cantores; ela o soprano solista!
A mais famosa observação sobre Maria Augusta veio da princesa Isabel, se bem que uma confusão de quem não a ouviu e só repetiu, atrapalhada, alguma informação. No diário de viagem que fez à Província de São Paulo, quando esteve em Itu (1884) e hospedou-se na Casa Caselli, a filha do Imperador anotou que não pôde conhecer porque já estava velha e cansada, a cantora Maria Augusta, que o bom vigário diz ter a capacidade de “chocar o sistema nervoso” com o seu timbre. Maria Augusta não contava 30 anos! Certamente a princesa não entendeu o que disse o Padre Miguel Correia Pacheco; a cantora continuou fazendo sucesso pelas décadas seguintes, conforme noticiam os semanários ituanos
Nascida em Sorocaba a 16 de abril de 1855, Maria Augusta era filha de Anna Rita Pacheco (1839 – 1869) e Joaquim Romão da Silva Prado (1831 – ??), músico da tradicional família de Jundiaí. Ele era professor de música também. Casados em Itu a 17 de maio de 1854, além dela, tiveram Joaquim Filho e Rita.
Além do ofício da música, Maria Augusta compartilhou com Tristão Mariano a criação de sete filhos, o mais famoso, Tristão Júnior.
Ela faleceu em Itu a 05 de agosto de 1925 – há um século; contava 70 anos e ainda era lembrada, na imprensa pelo sucesso nos coros das igrejas ituanas.
Luís Roberto de Francisco
Cadeira Nº 30 | Patrono: Tristão Mariano da Costa