Espaço Acadil: “Ancestrando”
Vilma Pavão Folino
Cadeira nº 35 I Patrono Maria José de Toledo Piza
Fevereiro, 21, Dia Nacional do Imigrante Italiano. Instituído em 2008, se refere à chegada do Vapor La Sofia,a Expedição Tabacchi, que iniciou a massiva imigração trazendo 380 trentinos e vênetos destinados à Província do Espírito Santo, em 1874. Por que um dia especial para os italianos, se nosso país recebeu imigrantes de muitas nações? A justificativa mor é que a vinda de 1.243.633 italianos, com ápice entre 1880 e 1930, representa o maior movimento migratório internacional de nossa história e, hoje, há mais de30 milhões de ítalo-descendentes,15% de nossa população.
Temos orgulho da forma com que nossos ancestrais, italianos ou não, enfrentaram a insalubre travessia do Atlântico, na terceira classe dos vapores. Supomos que viagem, epidemias, dificuldades de assimilação de novos costumes e jornadas imensas de duro trabalho, totalizassem suas agruras. Mas, para nossos pioneiros,a chegada e o rumo ao destino constituíram outra saga.
Muitas vezes o vapor trazia os passageiros somente até o Rio de Janeiro. Quando os navios atracavam, havia espera de dois dias para comprovação de ausência epidêmica. O desembarque, em pequenos barcos, conduzia 15 a 20 pessoas, levadas a locais improvisados onde permaneciam por 3 a 4 dias aguardando contrato de trabalho, navio de cabotagem doméstica ou outro transporte. Só em 1883 foi inaugurada a Hospedaria Ilha das Flores, no Rio.
Chegar a seu destino, não era fácil, nem mesmo para os que se dirigiam a São Paulo, sobretudo antes da ferrovia. Permaneciam em Santos no Arsenal da Marinha,no porto Góes no Guarujá, na Igreja do Valongo, no Teatro Rink e subiam para o planalto de carroça, a cavalo… Após 1867, com a via férrea, a situação ficou menos penosa, mas, era necessário aguardar nos vagões pela demorada partida do trem. A magnífica Hospedaria do Brás começou a funcionar em 1887. Onde foram recebidos os que chegaram antes? A resposta está na dissertação de mestrado/USP-2013 de Rosa Guadalupe S. Udaeta, rigorosa pesquisa sobre o abrigo aos imigrantes em São Paulo de 1875 a 1886. Aponta hospedagens improvisadas, de pensão e casinhas de madeira a olaria adaptada, quartel, galpões e barracas, sem camas, sem esteiras.
Bem, ao correlacionar a história pessoal à das hospedarias, a admiração aos ancestrais se amplia,comprovando que o grau de determinação, coragem e superação foi muito maior do que nossa imaginação acostumada ao conforto, pode alcançar.