Espaço Acadil: Estigma 

A tarefa mais espinhosa já confiada a mim
foi representar, com gestos, a palavra estigma.
Estigma
Estigma
Estigma
O estigma de Santa Rita de Cássia
— bem na testa —,
que cheirava mal e motivou-lhe uma vida resguardada. Mas como, se, além de mim, não havia devotos ali? Uma gota de suor gelado escorreu pelo meu dorso, que àquela época já tinha uma pequena cicatriz. Não, era proibido apontar.
Estigma
Estigma
O estigma da hanseníase,
que separou minha tia-avó do meu tio-avô,
segregado até a morte no Pirapitingui.
Não, história triste demais para ser profanada assim. Estigma
Estigma, a parte terminal do gineceu da flor.
O estigma que recolhe os grãos de pólen
que fecundam os óvulos
que dão origem a novas vidas.
Vida!
Uma história de estigma que não envolve feridas e segregação. Como se minhas mãos dançassem no ar,
desenhei a forma invisível de uma flor e suas partes.
E foi assim que duas biólogas,
um cientista da computação e um economista venceram o jogo.

Fernanda Savioli Scaravelli Pires
Cadeira Nº 16 | Patrono Tristão Bauer