Espaço Acadil: Geração “Nem-Nem”

Guilherme Del Campo
Cadeira nº 11 I Patrono Mario de Andrade 

Observamos uma estatística aterradora, cerca de 13 milhões de jovens no Brasil, não estudam e não trabalham.Isso representa 30% da população até os 30 anos, chamados de geração “nem-nem”. O “Estadão” recentemente informou que esse número é superior à população da Bélgica. A cada ano os alunos que se formam não são absorvidos pelo mercado de trabalho. Os ensinos do 1º e 2º graus não os preparam profissionalmente para nada. Para sanar essa anormalidade seria necessário um ensino de melhor qualidade, com professores que os adequassem para o mercado de trabalho, através de cursos profissionalizantes e estágios nos vários setores da economia. Aliado a isso registra-se o baixo crescimento econômico e o excesso de tributação sobre as empresas.

Iniciativas privadas, como o SENAI, encarregam-se de formar seus alunos nas mais diversas atividades ligadas à mão de obra para suprir a demanda industrial, mas ainda é pouco.  Entretanto, há 21 anos o programa “Jovem Aprendiz” prevê a contratação de jovens sem experiência, por empresas,mas para isso todos precisam estar matriculados em escolas. Dados indicam que hoje, cerca de 450 mil jovens estão inscritos no programa, trabalhando como aprendizes na indústria e no comércio. Todavia esse programa absorve poucos que precisam ser reciclados. Quem muito auxilia é o CIEE – Centro de Integração Empresa-Escola.

Pais e avós sacrificam-se para fornecer, a esses jovens, condições financeiras que os auxiliem a adquirir o que vestir, calçar e alimentar, inclusive fornecendo alguns recursos financeiros para pequenos desejos. Contudo, a falta de maiores valores os exclui do curso superior, agravando ainda mais essa condição. E não estou falando sobre o analfabetismo, que é grave. Confinados por causa da Covid-19, milhares de jovens afastam-se da escola, dos esportes e passam horas em jogos eletrônicos.

Essa inóspita condição, à margem da sociedade letrada e mais culta, os expõe a pressões consideradas nocivas, como o ingresso ao tráfico, visto a falta de recursos que espertamente são supridos pelos traficantes, cujas quadrilhas os aliciam bem cedo,  inclusive submetendo-os ao mundo do crime organizado.

Aliado a isso está o desalento dos jovens pela falta de perspectivas e de confiança no futuro. Bons tempos aqueles em que existiam as “corporações de ofícios” nas quais  logo cedo os jovens aprendiam diversas profissões. Antigamente eu me lembro de tantos que aprendiam ofícios em oficinas, pequenas indústrias e manufaturas.

A situação atual compromete o desenvolvimento, o que resulta na procura para sair do país. O Estado deveria olhar para essa realidade com mais carinho, objetividade e procurar formar e absorver a mão de obra latente.