Espaço Acadil: Inspiração não existe
Por Marcio Pitliuk
Cadeira nº 4 | Patrono Dr. Benedito Campos
Sou escritor, passo a vida escrevendo histórias e criando personagens. As vezes me perguntam o que eu faço quando não vem “inspiração”. Não acredito em inspiração, acredito em trabalho duro. Se eu ficar sentado olhando para uma parede branca, a única coisa que vou criar é uma página em branco.
Para me “inspirar” preciso ler, pesquisar, estudar, ouvir, ver, viajar, conhecer, conversar, colocar informações na minha cabeça para processar e criar meus personagens e histórias. É um trabalho como qualquer outro, a diferença é que trabalho para criar, para escrever um livro. Aquela imagem do artista que fica sentado a espera de uma “inspiração” que cai do céu não existe. É lenda. Do céu só cai chuva, cocô de passarinho e vez ou outra um asteroide.
Alguém pode dizer que para criar é preciso ter talento. É verdade. Para ser escritor, pintor ou músico é preciso ter talento. Mas para saber matemática também é preciso talento. Eu jamais consegui resolver uma equação de terceiro grau, por mais que o professor tentasse me ensinar. Porém, se o sujeito não estudar, não vai descobrir a Teoria da Relatividade. Advogados, médicos, cabeleireiros, alfaiates, dentistas, também têm talento. Cada um na sua área e função. Sem talento de comerciante, tente vender alguma coisa pelo preço que você acha que vale. É capaz de você acabar comprando de volta!
Escrever um livro é um trabalho como qualquer outro, difícil, cansativo, que exige determinação, persistência e muitas horas por dia sentado na frente de um teclado.
Do momento em que decido escrever um novo livro até digitar as letrinhas efe, i e eme, que formam a palavra “fim”, levo em média três anos. Escrevo, reescrevo, escrevo de novo, reviso, volto a escrever, corrijo, mudo de ideia, começo de novo, jogo tudo fora, escrevo, mando para amigos lerem e comentarem, volto a escrever, e assim passam os meses e os anos até achar que terminei o livro.
Isso é inspiração ou trabalho duro?
Picasso também não acreditava em inspiração. Ele dizia que se a inspiração existisse, ia encontrá-lo trabalhando.
Da próxima vez que você ver um quadro, ouvir uma música ou ler um livro, pense nisso, pense nas horas de trabalho que o artista gastou para chegar naquele resultado.
Nada cai do céu.
Aproveito para convidá-lo a conhecer meu novo romance “A alpinista”, à venda na livraria da cidade. Levei três anos para escrever o que vou vai ler em poucas horas.