Espaço Acadil | O confrade Mário Dotta

Nestes dias, uma reunião inédita, entre as Academias de Letras de Itu e Salto (ACADIL E ASLe), comemora o centenário de nascimento do acadêmico Mário Dotta, confrade em Itu e patrono em Salto, mais um elo a unir as letras regionais e a história das duas cidades.

Ele foi o primeiro ocupante da Cadeira 32, criada em 1999 para eternizar, na ACADIL, a presença e a memória do advogado Ermelindo Maffei, um dos distintos intelectuais ituanos do século XX, homem de raras virtudes de cordialidade, que entendia o mundo com os olhos da solidariedade, injustiçado preso político em 1964, época da nefasta ditadura que se abateu sobre o Brasil. Depois de dois anos recolhido ao DOPS, afastado da família e do ofício de advogado dos operários, foi defendido heroicamente pelo colega Mário Dotta e voltou ao convívio social.

A coragem do defensor saltense foi notória; a peça jurídica foi publicada sob o título “A defesa de um advogado”. Dotta, ex-aluno do Ginásio Regente Feijó, em Itu, causídico em nossa comarca, bom cronista e poeta, criou laços fortes esta terra, mesmo que tenha sempre vivido em Salto, onde foi cidadão notável.

Em junho de 1999, tornou-se membro da ACADIL, tomando posse no mês seguinte. Somente em 2001 fez o elogio ao patrono e amigo Maffei. Foi saudado pela colega nas lides da justiça, Maria Lúcia Caselli.

O confrade Dotta era homem de formação clássica, aluno de Latim do Prof. Tristão Bauer e Língua Portuguesa do Dr. Salathiel Vaz de Toledo, tornando-se bom leitor e exímio escritor. Na maioria de suas crônicas, publicadas no jornal “O Liberal”, que fundou em Salto e no “Taperá”, ainda existente, tratava de questões políticas, jurídicas e muitas memórias. Na Revista da ACADIL, entre as edições dos anos 2000 e 2003, fez constar “Tiquinho e Honório”, caso de injustiça que Maffei defendeu em Salto, “O casaco de peles”, narrativa de caso jurídico em Itu; uma crônica sobre estética “considerações sobre o belo” e o lamento intitulado “A Casa da Cultura”.

Dotta foi muito atuante nas reuniões da ACADIL, participava das festividades trazendo um humor inteligente, fala polida, causas nobres, sempre prosa.

Ele nasceu em Salto a 14 de abril de 1925, há cem anos. Foi o primeiro advogado na terra natal, ainda quando não havia a comarca própria, que ele ajudou a criar, posteriormente. Foi vereador dedicado, em algumas legislaturas. Formou uma bela família que não se esquece de sua presença marcante. 

Faleceu a 12 de maio de 2004, antes de completar 80 anos, deixando um legado marcante, como o poema “Os rios da minha terra”, gravado em bronze junto à ponte pênsil do Tietê. É um grito de compadecimento pela morte das águas em que ele se banhara na infância, desgosto nos versos do poeta.

Luís Roberto de Francisco 
Cadeira Nº 30 | Patrono Maestro Tristão Mariano da Costa