Espaço Acadil: Onde estão as estrelas?
Guilherme Del Campo
Cadeira nº 11 I Patrono Mario de Andrade
Quando criança a iluminação das ruas da velha Itu era precária. Assim, admirava o intenso brilho das estrelas, num céu limpo onde surgia a Lua prateada. Antigamente, era comum a gente localizar as várias constelações, inclusive a do Cruzeiro do Sul e as Três Marias. Era magnífico assistir a queda das chamadas estrelas cadentes e fazer os pedidos dos nossos desejos. Aliás, as estrelas cadentes nada mais são do que meteoritos, que se incendeiam ao adentrar na atmosfera terrestre. Outros fenômenos eram assistir eclipses lunares e solar, a passagem dos cometas, como o Halley em 1986, difícil de ser identificado, apesar do binóculo e o seu retorno previsto para 2061. O planeta Marte com sua auréola rosada em volta, provocada pela tonalidade vermelha da sua superfície.
Hoje, tem-se a impressão de que as estrelas fugiram do céu, visto a extrema dificuldade em identificá-las. O firmamento passou a ter menos estrelas? A verdade é que a culpa disso é a poluição luminosa, das nossas cidades.
Na juventude, quando saíamos para caçar à noite, eu e meus amigos vislumbrávamos um céu maravilhoso, repleto de estrelas entre outras formações cósmicas, visto estarmos longe da cidade, na zona rural, o que chegava a nos emocionar.
Estudos mostraram-nos nos que a Via Láctea, antes vista no arco do céu, está escondida para mais de um terço da humanidade, devido a poluição luminosa.
Jane Gregório-Hetem, professora do departamento de astronomia da USP, comentou que, além dos impactos à ciência, é assustador o efeito adverso da poluição luminosa no meio ambiente. E dá alguns exemplos:
As tartaruguinhas, depois de eclodirem dos ovos nas praias, utilizam-se do brilho da Lua sobre o mar para se orientar. Se por ventura houver uma cidade próxima, isso vai confundi-las e assim não vão saber qual é o lado mais iluminado que elas devem seguir e longe do mar não sobreviverão.
Outra curiosidade: essa luminosidade excessiva tem afetado o acasalamento dos vagalumes. Os machos emitem uma luz para indicar sua disponibilidade para o sexo e as fêmeas respondem com flashes, para indicar que estão prontas.
Constatou-se, cientificamente, que a iluminação branca de LED, é prejudicial ao ser humano, visto alterar significativamente o nosso relógio biológico, interpretando-a como a luz solar durante os dias. Esse fato também interfere na sensibilidade dos animais e vegetais que se utilizam da luz natural, para regular suas atividades
O ideal é utilizar-se, à noite, de iluminação mais tênue como os amarelados, reduzindo esse risco, que pode interferir no nosso sono noturno. Outra opção é misturá-las, luz branca junto com luz amarela para atenuar o efeito tão prejudicial à saúde.
Não há maravilha melhor do que poder observar as estrelas no céu, seus planetas, asteroides entre outros fenômenos astronáuticos.