Espaço Acadil | Protesto

Pelo ar se estragando,
pelos peixes morrendo,
pelo verde secando,
pelo fraco oprimido,
pela mulher-objeto,
seu uso e abuso,
eu gritei.
Gritei, berrei, até esperneei!
Então eles em coro ordenaram:
“Seu lugar é no tanque,
na cama,
na grama,
na lama”
“__Seu lugar é na cozinha,
na avenida
despida
na vida…”
Ah! Mas eu gritei!
Você só ouviu
um fraco gemido,
sumido,
doído!
Abafado pela mordaça.
Mordaça de aço
forjada em milênios de submissão,
omissão,
desunião.
Mas eu gritei.
Então, eles apertaram a mordaça,
e pelo ar estragado,
pelos peixes mortos,
pelo verde já seco,
pela mulher-objeto,
pelo fraco mais oprimido,
pelo berro gorado,
pelo grito falido
Eu, Mulher,
em silêncio chorei…

(poema vencedor do 5º Concurso de Poesias “Moutonnée” de Salto, 1994, entre 760 concorrentes do Brasil)

Leonor Zaparolli Carpi
Cadeira Nº 21 I Patrona Maria Cecília Bispo Brunetti